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"Treze Dias", de Roger Donaldson
Por VASCO T. MENEZES

Albert DeSantis (Michael Imperioli) é um tímido agente de viagens. Pouco sociável, passa os dias a enviar pessoas em viagens para os quatro cantos do planeta, mas nunca foi a lado nenhum. Vive num mundo fechado e o seu dia-a-dia cinzento resume-se ao emprego e às horas passadas sozinho num apartamento tristonho.

Um dia, após ter recusado (por puro medo) sair com uma colega de trabalho, recebe um telefonema inesperado. Louie Salazar (John Ventimiglia), o seu melhor amigo de infância, de quem já não tinha notícias há nove anos, está do outro lado da linha, acabado de chegar a Nova Iorque. Como se fosse a coisa mais natural do mundo, Louie confidencia-lhe que fugiu da prisão e que precisa de ajuda. Albert recusa dar-lhe a sua morada, mas promete ir buscá-lo.

No entanto, depois de desligar o telefone, a primeira reacção é de pânico e Albert não demora muito a denunciar o amigo a dois polícias que lhe batem à porta de casa. Mas, quase de seguida, arrepende-se e resolve ir até Port Authority, a estação central de autocarros de Manhattan, onde Louie se encontra refugiado. Aí (re)encontra um homem estouvado e ligeiramente louco, o mesmo que em criança o metia em constantes sarilhos, que tentou assaltar um banco e decidiu escapar da prisão quando já só lhe faltavam cumprir duas semanas de uma pena de cinco anos...

A princípio, o pacato Albert apenas aceita emprestar dinheiro a Louie, mas as insistências do extrovertido amigo acabam por transportá-lo para uma longa noite, cheia de surpresas, encontros imediatos dos mais variados graus e um sem-número de peripécias...

Com "Em Fuga/On the Run" (1999), a série Y acolhe um objecto singular. Co-produção entre Portugal, França e EUA, a longa-metragem de estreia de Bruno de Almeida fica para a história não só como o primeiro filme português inteiramente feito nos Estados Unidos, mas também como a primeira colaboração de um argumentista de Hollywood - Joseph Minion, que escreveu obras tão insólitas e entusiasmantes como "Nova Iorque Fora de Horas" ou "O Beijo do Vampiro" - com um cineasta lusitano.

Para lá da fluidez da câmara quase "invisível" do realizador, o que mais se destaca nesta história da relação entre dois desajustados são as marcas de Minion, o seu estilo de comédia negra existencial, entre o realismo e o absurdo. E, claro, o trabalho da dupla de protagonistas (que já pudemos ver na série "Os Sopranos), "habitués" secundários da cena independente americana que aqui aproveitam de forma notável uma rara oportunidade para estar no centro de uma ficção.