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"Amor Cão", de Alejandro Iñárritu
Por VASCO T. MENEZES

Cidade do México. Três histórias ligadas por um acidente de viação. Octavio vive num bairro degradado e partilha um apartamento exíguo com a mãe, o irmão, Ramiro, e a mulher deste, Susana. Apaixonado há muito pela cunhada, que de Ramiro recebe apenas violência e desprezo, decide conquistá-la.

Mas para partir com Susana é preciso dinheiro. Por isso, Octavio resolve aproveitar a recém-descoberta veia guerreira do seu cão, Cofi, e inscreve o animal no submundo lucrativo, mas brutal, dos combates organizados entre canídeos. É então que Cofi se revela um lutador imbatível, o que não agrada particularmente ao dono do antigo campeão, líder de um "gang" local...

Valeria, uma modelo famosa cujo corpo preenche cartazes quase em cada esquina, vive dias felizes: o seu amante de meia-idade abandonou finalmente a mulher e as filhas, o passo decisivo para uma vida a dois. Mas quando um acidente lhe deixa a perna estropiada, o calvário de Vanessa tem início: obrigada a ficar em casa, sem poder continuar a trabalhar, entra numa espiral de desespero quando o seu adorado "caniche" desaparece por um buraco no soalho da casa nova...

El Chivo deixou para trás a família e o emprego de professor universitário para se tornar guerrilheiro. Em luta por um mundo melhor, conseguiu apenas passar 20 anos na prisão. Convertido em assassino a soldo, subsiste como um vagabundo, calcorreando as ruas na companhia inseparável da sua matilha de vira-latas. Até ao dia em que as memórias de uma vida passada voltam à tona, acordando nele uma vontade de expiar a culpa...

O cinema mexicano está de regresso à série Y. Depois de "E a Tua Mãe Também", é agora a vez de "Amor Cão" (2000) surgir como segundo representante dessa cinematografia. E tal como o exemplo anterior, também a primeira longa-metragem de Alejandro González Iñárritu atingiu o êxito comercial no país natal e a consagração internacional (distinções em diversos festivais, entre elas o Grande Prémio da Semana da Crítica em Cannes e o Grande Prémio de Cinema Fantástico do Fantasporto, e nomeação para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro).

Mosaico de histórias paralelas que se tocam e entrelaçam num labiríntico microcosmos urbano, o filme resulta num quebra-cabeças engenhoso sobre amor, perda e redenção, experiência que o realizador prosseguiria no seu primeiro projecto americano, o recente "21 Gramas", nomeado este ano para dois Óscares. Pormenor importante: foi aqui que Gael García Bernal (que actualmente podemos ver como protagonista do último Almodóvar, "Má Educação") teve o primeiro papel de relevo.