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"Hollywood Ending"
Por VASCO T. MENEZES

O realizador Val Waxman (Woody Allen) é um homem caído em desgraça. Nos anos 70 e 80, estava na crista da onda, vencia Óscares e os seus filmes eram êxitos junto do público. Mas, de um momento para o outro, tudo mudou: nos últimos tempos, face à escassez de ofertas de trabalho, Val ficou reduzido aos anúncios de televisão (até o telefilme "sobre o aborto, seguido da divisão de genes interracial" se lhe escapa...).

Além de uma série de insucessos comerciais, as principais causas para a transformação de Val em "persona non grata" junto da indústria cinematográfica parecem ter sido uma reputação de cineasta "difícil", com tiques e exigências de "autor", e os crescentes problemas de ansiedade. Ingredientes que, combinados, lhe tornaram quase impossível terminar um filme a tempo e horas ou dentro do orçamento previsto. Resultado: está na lista negra dos principais estúdios de Hollywood.

No entanto, parece haver ainda luz ao fundo do túnel: apesar de "chanfrado" e "incompetente" serem os adjectivos normalmente utilizados para caracterizar Val, a sua ex-mulher, Ellie (luminosa Téa Leoni), produtora em Hollywood, discorda (bom, pelo menos em relação ao "incompetente"...). Por isso, oferece-lhe uma oportunidade de voltar às luzes da ribalta, convencendo o namorado (Treat Williams), patrão da Galaxie Pictures, a contratar Val para dirigir "A Cidade que Nunca Dorme", uma grande produção orçada em 60 milhões de dólares.

Para Ellie, o ex-marido é o realizador ideal para o material em causa, pois o filme ("remake" de um título dos anos 40) é uma ode a Nova Iorque, cidade que lhe "está nas entranhas". E, de início, tudo parece correr bem. Só que, nas vésperas do começo das filmagens, surge um pequeno percalço: Val, neurótico hipocondríaco por excelência, fica em estado de cegueira psicossomática. Para não enterrar de vez a carreira, resta-lhe realizar o filme sem ver...

Com "Hollywood Ending" (2002), regressa à série Y Woody Allen, de quem já foram apresentados "Balas sobre a Broadway" (1994), "Toda a Gente Diz que Te Amo" (1996) e "O Mistério do Escorpião de Jade" (2001). Todos eles exemplos do actual período, mais ligeiro e lúdico, que a obra de um dos cineastas americanos mais importantes em actividade vem atravessando desde "O Misterioso Assassínio em Manhattan" (1993).

Mas, ao contrário do registo de comédia sofisticada que tem sido a norma durante a última década, Allen aposta aqui num humor mais físico, próximo do burlesco "slapstick" das paródias tresloucadas dos primeiros tempos de carreira. O alvo é agora o mundo do cinema e os resultados não menos sedutores, graças a uma série de "gags" e diálogos irresistíveis, servidos pelo habitual elenco de luxo, onde sobressaem ainda George Hamilton, Debra Messing ou Mark Rydell.




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