"Pequeno
Buda"
Por VASCO T. MENEZES
Lama Norbu, um velho monge budista, viaja do mosteiro Paro,
no Butão, até Seattle, nos EUA. O motivo da
deslocação é simples: a possível
confirmação de uma notícia pela qual
esperava há já nove anos, a reencarnação
de Lama Dorje, o seu venerado mestre.
Segundo Kenpo Tenzin, outro membro da
mesma ordem, radicado na América, o jovem Jesse Conrad,
de oito anos, poderá ser aquele que tanto procuram.
Isto porque Tenzin afirma ter sido visitado, em insistentes
sonhos, por Dorje, que lhe terá indicado o local
onde, passado algum tempo, seria erigida a casa da família
Conrad: o pai, Dean (o cantor Chris Isaak, no seu primeiro
papel principal), um engenheiro; a mãe, Lisa (Bridget
Fonda), professora de matemática; e o pequeno Jesse,
nascido exactamente um ano depois da morte do líder
espiritual.
Após se apresentarem aos Conrad
e os deixarem a par das suas convicções no
que respeita ao destino do filho, os monges oferecem a Jesse
um livro que retrata a lenda do homem que, no século
VI A. C., se tornou Buda. Fascinada, a criança lê
a história de Siddartha (Keanu Reeves, com a pele
escurecida), príncipe de um reino na Índia
Antiga que, já adulto e depois de descobrir a dor
e a compaixão, resolve dedicar-se à procura
da iluminação, forma de libertar todas as
criaturas do sofrimento.
Entretanto, passado o cepticismo inicial,
os pais de Jesse cedem às pretensões dos visitantes
e Dean acompanha o filho até ao Butão, onde
testes finais provarão se o rapaz é ou não
a reencarnação de Dorje. Mas, afinal, há
outros candidatos: Raju, um miúdo nepalês,
e Gita, uma rapariga indiana...
Depois de Roman Polanski ("A Nona
Porta) na semana passada, é agora a vez de outro
cineasta europeu consagrado se estrear na série Y:
Bernardo Bertolucci. E, tal como o polaco, o italiano (cuja
veia artística se manifestou primeiro, aos 12 anos,
como poeta e que teve em Pier Paolo Pasolini uma espécie
de mentor artístico) é um "realizador
do mundo", eterno viajante que partilha ainda com o
autor de "Repulsa" o gosto pela provocação.
Mas se títulos como "O
Conformista" ou "O Último Tango em Paris"
provocaram polémica, em "Pequeno Buda"
(1993), o DVD de amanhã, ela está ausente
(a não ser que se conte com as escolhas pouco convencionais
para o elenco...). Nesta epopeia sobre o budismo - capítulo
final de uma trilogia de filmes em paisagens remotas, iniciada
com "O Último Imperador" e continuada em
"Um Chá no Deserto" -, Bertolucci aposta
num tom de fábula mágica para ligar duas narrativas
paralelas, separadas por 2500 anos, e assinar uma sumptuosa
aventura espiritual, em que se destaca a fotografia deslumbrante
de Vittorio Storaro.
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