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"A Nona Porta"
Quarta-feira, 5 de Maio de 2004
Por VASCO T. MENEZES


Dean Corso (Johnny Depp) é um "detective de livros", especialista em localizar e verificar a autenticidade de edições raras. Extremamente cínico, é um terrível homem de negócios, com poucos escrúpulos e ainda menos amigos, que utiliza os inegáveis talentos e conhecimentos literários em favor de clientes abastados.

Um deles é o milionário Boris Balkan (Frank Langella), um sinistro coleccionador perito em demonologia. Para a sua biblioteca dedicada ao Diabo, acaba de conseguir um bem de valor inestimável: o livro "As Nove Portas do Reino das Trevas", escrito em 1666 pelo veneziano Aristide de Torchia. Suposta adaptação do mítico "Delomelanicon", da autoria do próprio Lúcifer, diz-se que as suas nove gravuras contêm uma espécie de enigma satânico que, quando resolvido, permitirá invocar Satã.

Desde que Torchia, juntamente com as suas obras, foi queimado pela Inquisição, restam apenas mais duas cópias, parte integrante de outras tantas colecções privadas, mas aparentemente só uma das três será autêntica. Balkan contrata então Corso para as comparar e descobrir qual delas é a verdadeira, uma investigação que levará o "mercenário" americano até à Europa. E à medida que se aventura num labirinto com passagens por Toledo, Sintra ou Paris, os perigos e tentações aumentam, com a morte a espreitar em cada esquina...

Com "A Nona Porta" (1999), estreia-se na série Y mais um autor consagrado, Roman Polanski. Já uma instituição, o responsável por clássicos como "O Beco" (1966) ou "Chinatown" (1974) é um dos cineastas europeus mais importantes das últimas quatro décadas. Há um ano, conquistou finalmente o Óscar de melhor realizador, com o seu filme mais recente, "O Pianista" (onde revisitou a infância vivida durante o Holocausto), e é dono de uma carreira ilustre, que se estende pelos mais variados géneros: da comédia ao drama, passando pelo policial ou o filme de piratas.

E, nesse périplo constante, um dos territórios de eleição do polaco foi sempre o fantástico, no qual se inscrevem alguns dos melhores exemplos do seu cinema, casos de duas obras-primas, "Repulsa" (1965) e "A Semente do Diabo" (1968). É a ele que o realizador regressa, mais de vinte anos depois de "O Inquilino" (1976), com este "A Nona Porta", um concentrado de temas e motivos tipicamente polanskianos.

Tendo como ponto de partida "O Clube Dumas", romance do escritor espanhol Arturo Pérez-Riverte, o filme resulta num pedaço exótico de "thriller" sobrenatural, construído à volta de elementos retirados da tradição "noir" e apostando na criação de uma atmosfera de inquietação permanente. No elenco, destaque ainda para as presenças sedutoras de Lena Olin e Emmanuelle Seigner (a Sra. Polanski), bem como a participação especial do músico inglês Goldie.



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