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"A Fúria do Herói", na Série Y
Quarta-feira, 31 de Março de 2004
Por VASCO T. MENEZES


Um homem chega a um cenário bucólico, uma casa perto de um lago. Chama-se John Rambo (ou Sylvester Stallone, o que vai dar quase ao mesmo) e é um veterano da Guerra do Vietname. Está à procura de um companheiro do exército, mas dizem-lhe que o amigo morreu há um ano, com cancro, provavelmente trazido do sudeste asiático.

Conformado, prossegue a sua caminhada, agora já sem rumo ou objectivo, e chega a uma pequena cidade do interior americano. A terra dá pelo nome de Hope, mas esperança é coisa que Rambo não vai encontrar. O xerife local, Will Teasle (Brian Dennehy), deixa-o bem claro quando resolve implicar com ele, sem razão aparente. Ou melhor, não gosta do aspecto do forasteiro - sujo, cabelo desgrenhado e comprido, barba por fazer -, supostamente não condizente com a bandeira americana cosida no casaco verde.

Teasle escolta-o até à saída da cidade. Apesar da relutância em falar, o antigo Boina Verde lá vai dizendo que só quer comer e que está de passagem, mas, para o xerife, a presença do "vagabundo" desencadearia inevitável confusão num sítio "monótono", onde só vive gente "pacata". Imperturbado pelas ameaças (e, por essa altura, já são por demais evidentes a expressão vazio e o olhar assombrado), Rambo dá meia volta e recomeça a entrar na cidade, o que enfurece Teasle.

Preso e levado para a esquadra, é sujeito a várias humilhações, perante a recusa em colaborar e responder às perguntas da polícia. Quando algo faz disparar na sua mente as torturas sofridas na guerra, reage com a ferocidade súbita de um animal acossado. Fugindo dos captores, parte para as montanhas rochosas circundantes, dando início a uma violenta caça ao homem...

Depois de "Fomos Soldados", as sombras da Guerra do Vietname voltam a pairar sobre a série Y, com "A Fúria do Herói" (1982), de Ted Kotcheff. Partindo de um romance de David Morrell, o filme aborda a questão do desenraízamento sentido pelos soldados de um conflito traumático, aquando do regresso a casa, e enquadra-a na lógica e ritmo de um "action movie".

O resultado é um objecto trepidante, onde sobressai o saber fazer do veterano realizador canadiano. Grande êxito de bilheteira, deu o primeiro sucesso pós-"Rocky" a Stallone, que aqui viu nascer um segundo alter-ego, tão ou mais popular do que o incansável pugilista de Filadélfia. Ao longo da década de 80, a influência do filme no cinema de acção popular americano tornou-se gritante. Mas o facto de ter originado (além de uma série de desenhos animados...) vários produtos menores - como a trilogia "Desaparecido em Combate" ou as próprias sequelas ridículas - não pode (nem deve) chamuscar os seus evidentes méritos.