"A Máscara"
Por VASCO T. MENEZES
Stanley Ipkiss (Jim Carrey) é um tipo simpático, mas infelizmente ninguém parece reparar nisso. Um tímido empregado bancário é tratado como um capacho por quase todos os que o rodeiam, do patrão aos colegas de trabalho, passando pela senhoria, que o define assim: um grande nada.
As únicas alegrias que tem na vida são fornecidas por duas fontes: o cão, Milo, e os desenhos animados que tanto adora. No entanto, depois de mais um dia cheio de humilhações - os empregados da oficina onde deixara o carro vigarizam-no e, ao tentar entrar no clube mais badalado em Edge City, o "Coco Bongo", não consegue passar da porta -, a sua sorte parece mudar: partindo da suposição errada de que alguém se está a afogar, atira-se ao rio e encontra uma máscara.
De volta a casa, coloca-a e dá-se o impensável: Stanley transforma-se num estranho ser de cara verde, com a personalidade de uma criança mal-educada e traquinas e dotado de poderes assombrosos como contorcer o corpo a seu bel-prazer e deslocar-se a velocidades impressionantes. E, antes de pensar em coisas nobres como proteger os inocentes ou lutar pela paz, o nosso herói quer apenas divertir-se e realizar os mais íntimos desejos. Como fazer a corte à cantora Tina (Cameron Diaz, que mesmo no primeiro papel em cinema já dava mostras de ser muito mais do que uma mera "bomba loira"), a namorada de um "gangster" ambicioso que planeia dominar a cidade...
A série Y entra na Parte IV e o início é avassalador: "A Máscara" (1994), filme-turbilhão que foi um dos grandes sucessos comerciais da década de 90 e transformou Jim Carrey numa das maiores estrelas de Hollywood (a partir daí, começou a cobrar para cima de dez milhões de dólares por papel...), confirmando o estatuto do canadiano como o novo rei da comédia burlesca, herdeiro do humor físico "apatetado" de Jerry Lewis (com o qual começou a ser comparado a partir do anterior "Ace Ventura: Detective Animal").
Nesta sedutora comédia, veículo perfeito para a animalidade fortemente sexual do protagonista, a lenda de Fausto, o "Dr. Jekyll e Mr. Hyde" de Robert Louis Stevenson e incontáveis exemplos da BD de super-heróis (o filme baseia-se mesmo num "comic" paródico publicado pela editora Dark Horse e acabou por originar uma igualmente bem sucedida série de TV animada) fundem-se com a energia anárquica e alucinada dos "cartoons" clássicos de Tex Avery ou Chuck Jones.
Tudo com a desfaçatez e irrisão próprias dos delírios de uma série B, campo onde o realizador, Chuck Russell, iniciou a carreira, assinando duas pequenas pérolas: "Pesadelo em Elm Street 3" (1987) - o único capítulo a não desmerecer do original de Wes Craven - e "The Blob" (1988), "remake" do clássico de ficção científica "camp" dos anos 50 (e no qual Steve McQueen teve direito ao primeiro papel principal).