"Gritos 2", de Wes Craven, na Série Y
Por Vasco T. Meneses
Passados dois anos desde a vaga de assassinatos que assolou a pequena comunidade rural de Woodsboro, Sidney Prescott (Neve Campbell) tenta esquecer o passado e levar uma vida "normal". E as coisas até parecem correr bem: um novo namorado, Derek (Jerry O'Connell, em tempos um dos pré-adolescentes de "Conta Comigo"), aparentemente sem tendências psicóticas, e mudança de ares, frequentando agora a Universidade de Windsor, no Midwest, ao lado de Randy (Jamie Kennedy), outro dos sobreviventes da tragédia.
Mas, como já se sabe, a História repete-se, e os primeiros indícios surgem na noite de estreia de "Stab", a versão cinematográfica dos acontecimentos de Woodsboro, inspirada no "bestseller" da jornalista Gale Weathers (Courteney Cox): dois jovens (as "estrelas convidadas" Jada Pinkett Smith e Omar Epps) são mortos durante a sessão por uma figura mascarada exactamente igual ao assassino do filme (e, já agora, da "vida real"...).
Acto contínuo, o circo mediático (liderado pela pouco escrupulosa Gale) volta a cercar Sidney, que se vê pela segunda vez alvo da obsessão de um perigoso (e sagaz) homicida. E à medida que os cadáveres se começam a acumular na faculdade, chega-se à conclusão de que alguém está a tentar duplicar Woodsboro e terminar o que ficou inacabado.
Agora, só falta descobrir quem é o assassino. Tarefa complexa, a julgar pelo número de suspeitos. Por exemplo, há que contar ainda com o desajeitado ex-polícia Dewey Riley (David Arquette), ou com Cotton Weary (Liev Schreiber), o homem que Sidney acusou (erroneamente) de ter matado a mãe, recém-saído da prisão...
Depois da boa disposição dos solarengos "Italiano para Principiantes" e "A Bela Época", a série Y prossegue com outro tipo de emoções, dando as boas-vindas ao terror, que ainda não tinha sido apresentado. E se em "Gritos 2" (1997) o humor também está presente, a verdade é que a comédia é de um teor bastante negro. Aliás, nem poderia ser de outro modo, ou não estivéssemos perante a continuação de "Gritos" (1996), magnífica desconstrução pós-moderna dos mecanismos do filme de terror, parodiando e homenageando o género, e o inesperado campeão de bilheteiras responsável pela ressurreição do "slasher movie".
E a sequela vai ainda mais longe: a ironia auto-consciente continua cortante, os momentos de tensão e "suspense" de um rigor absoluto, e a própria noção de duplicação, inerente a um objecto desta natureza, é levada (e reflectida) até às últimas consequências. A comandar tudo está um grande senhor dos sustos fílmicos, Wes Craven, que aqui assina o maior êxito comercial (nos EUA, bateu os recordes de estreia no mês de Dezembro) de uma longa e ilustre carreira.
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