"Italiano para principiantes" na SérieY
Por Vasco T. Meneses
Andreas, um jovem padre viúvo, chega a uma cidadezinha nos arredores de Copenhaga para substituir o pároco local, suspenso por ter partido o braço ao organista. No hotel, conhece o recepcionista, Jorgen Mortensen, um homem de meia-idade com problemas de impotência (por essa razão, já não dorme com uma mulher há quatro anos).
Jorgen frequenta o (pouco popular) curso de italiano que a Câmara promove todas as quartas-feiras à noite, local de encontro para uma série de almas solitárias. Entre elas, Halvfinn, o gerente de um restaurante no estádio de futebol. Órfão irascível (devido ao mau feitio - passa o tempo a insultar a clientela -, está prestes a perder o emprego), é também o melhor aluno do curso. Uma apetência que se explica menos pelo contacto com a colega de trabalho italiana, Giuliana (apaixonada por Jorgen), do que pela intensidade com que acompanha a equipa de futebol da Juventus de Turim...
E há ainda Olympia, uma desajeitada empregada de padaria, que resolve experimentar o curso de italiano para escapar à influência do pai cruel com quem vive (a mãe abandonou-os há muito). Ou a cabeleireira Karen, outra vítima de uma família disfuncional (não conhece o pai, e a mãe, dominadora, é uma alcoólica já em estado terminal, a sair e entrar do hospital). Após alguns "flirts" com Havflinn, decide também ela assistir às aulas...
Na Primavera de 1995, um grupo de cineastas dinamarqueses, liderado por Lars von Trier e Thomas Vinterberg, instituiu o Dogma 95, movimento de "castidade cinematográfica" com o objectivo de atingir um "cinema-verdade", fundado sob pressupostos de "pureza" e "honestidade".
"Italiano Para Principiantes" (2000), o quinto filme Dogma (se não contarmos com as ramificações internacionais entretanto surgidas), foi o primeiro a ser realizado por uma mulher, Lone Scherfig. Coincidência ou não, é aqui que se sente com maior acutilância a vontade (já experimentada no anterior "Mifune", de Søren Kragh-Jacobsen) de procurar novos rumos para uma corrente (entretanto extinta) que evidenciava já sinais de cansaço.
O resultado é uma comédia sentimental que, sem desrespeitar nenhuma das sacrossantas regras impostas por Von Trier e companhia, corta com o negrume associado ao Dogma 95. A provocação e a frieza estão ausentes, e em seu lugar encontramos a leveza de um "feel good movie" aconchegante, aclamado no Festival de Berlim 2001: entre as várias distinções, destaque para os Prémios da Crítica e do Público.
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