"Elizabeth", de Shekhar Kapur,
na Série Y
Sara Gomes
Reconstituição histórica da vida de Isabel I, o filme dá-nos uma visão mais humana e compreensível dos desafios que esta rainha, coroada aos 25 anos, teve que enfrentar.
Inglaterra. Elizabeth Tudor (Cate Blanchett), filha ilegitima de Henrique VIII, sobe ao trono em 1558, depois da morte da sua meia-irmã, a rainha Maria Tudor, uma católica fervorosa. E os piores receios dos católicos concretizam-se: Elizabeth Tudor, que para a história será Isabel I, restabelece o protestantismo, do qual seu pai foi fundador. A divisão da Inglaterra - católicos contra protestantes - é o fio condutor do filme "Elizabeth" (1998), do indiano Shekhar Kapur, que explora a instabilidade dos primeiros anos do reinado.
Reconstituição histórica da vida de Isabel I, o filme dá-nos uma visão mais humana e compreensível dos desafios que esta rainha, coroada aos 25 anos, teve que enfrentar: a querela entre católicos e protestantes, as lutas e intrigas palacianas pelo poder, os amores frustrados de Elizabeth são retratados com uma enorme fidelidade aos factos que são conhecidos (porque muitos haverá que não vêm em manuais de história).
Assim que sobe ao trono, Isabel I é aconselhada a aceitar as ofertas de casamento de França ou de Espanha para obter uma aliança que lhe permita manter a coroa. Mas Isabel I só confia em Sir Francis Walsingham (Geoffrey Rush), o chefe do seu serviço de espionagem, e recusa-se a casar por conveniência - uma decisão que manterá até ao final dos seus dias e que lhe valeu o título de "Rainha Virgem". Walsingham encarrega-se, então, de matar Maria Stuart, a prima católica de Isabel I que reinava na Escócia sob o apoio francês, bem como todos os seus opositores internos.
Se antes do século XVI não existia o modelo de uma mulher que governasse sozinha, com Isabel I tudo muda. Como ela própria diz no filme: "Não sou a Elizabeth de nenhum homem. Reinará aqui [na Inglaterra] uma Senhora e nenhum Senhor!". E é exactamente o retrato de uma mulher que vence os preconceitos políticos e religiosos de uma época que nos oferece Shekhar Kapur (em 1994 realizou "Bandit Queen", que gerou grande polémica na Índia e foi escolhido para a Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes).
Candidato a sete Óscares da Academia em 1999, entre os quais melhor filme, melhor realizador para Shekar Khapur e melhor actriz para Cate Blanchett, "Elizabeth" acabou por arrecadar a estatueta por melhor caracterização. Mas o mais surpreendente no filme é o fim do ícone e a humanização da rainha da Idade do Ouro. |