"Estrada
Perdida"
de
David Lynch
Vasco T.
Menezes
Um fascinante "thriller" onírico pelo
autor de "Veludo Azul"
Fred Madison (Bill Pullman), um saxofonista, recebe, na sua
casa em Los Angeles, uma estranha mensagem: "Dick Laurent morreu",
diz-lhe alguém ao intercomunicador. Paranóico,
desconfia que a mulher, Renee (Patricia Arquette), lhe é infiel
e mantém com ela uma relação tensa. Um dia,
começam a encontrar misteriosas cassetes de vídeo à porta
de casa que, inexplicavelmente, exibem imagens do interior do
apartamento e do casal a dormir. A última delas, que Fred
vê sozinho, mostra-o a assassinar, de modo particularmente
violento, Renee.
O (suposto) assassino é condenado à morte e enviado
para a prisão. A partir daí, as coisas complicam-se
ainda mais: na manhã seguinte, os guardas descobrem, horrorizados,
que já não é Fred quem está na cela,
mas sim Pete Dayton (Balthazar Getty), um jovem mecânico
que não parece ter qualquer ideia de como foi ali parar.
Libertado, Pete regressa ao emprego. Aí, reencontra um
dos clientes habituais, o "gangster" Mr. Eddie (Robert Loggia),
e envolve-se com a namorada deste, Alice (novamente Patricia
Arquette), uma loira platinada que é a imagem exacta da
morena (e morta) Renee...
Depois da comédia leve de "Hora de Ponta", a série
Y Parte III entra por territórios mais sombrios, com "Estrada
Perdida" (1997), de David Lynch. É mais um "puzzle" labiríntico
do génio por trás de "Eraserhead" (1977) e "Veludo
Azul" (1986), híbrido bizarro entre o terror e o "noir" que
fica como o produto natural da primeira colaboração
verdadeiramente conjunta de Lynch com o escritor Barry Gifford.
O realizador já tinha adaptado um romance de Gifford
para o seu "Coração Selvagem" (1990, Palma de Ouro
em Cannes), e este retribuíra com o argumento da série
de TV "Hotel Room" (1993). Em "Estrada Perdida", trabalharam
finalmente juntos (são co-autores do argumento) e o resultado
final é um mergulho surreal no inconsciente que tem tanto
de deslumbrante como de aterrador.
Compêndio das obsessões e fantasmagorias "lynchianas",
o filme alia a uma banda sonora visionária - o inevitável
Angelo Badalamenti, mas também Barry Adamson, Trent Reznor
ou David Bowie - um fabuloso e ecléctico elenco, que conta
ainda com Gary Busey, Richard Pryor, Henry Rollins e a "mascote" Jack
Nance. Obrigatório.
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