"Traffic" de Steven Soderbergh
Vasco T. Menezes

Um fascinante mosaico de histórias à volta do mundo da droga vencedor de quatro Óscares. A série Y Parte III não podia começar melhor

Algures na fronteira entre o México e os EUA, perto de Tijuana, dois polícias, Javier Rodriguez (Benicio Del Toro) e Manolo Sanchez (Jacob Vargas), tornam-se membros de uma força de combate à droga dirigida com mão de ferro pelo general Salazar (Tomas Milian). No entanto, depressa se apercebem que a perseguição impiedosa movida pelo novo chefe ao poderoso cartel se deve ao facto de o general trabalhar para o seu maior rival.

Entretanto, em San Diego, na Califórnia, Helena Ayala (Catherine Zeta-Jones) vê o ma rido (Steven Bauer) ser preso e descobre que ele é um barão da droga. Grávida confrontada com as dívidas de Carlos resolve assumir ela o controlo do negócio...

"Traffic - Ninguém Sai Ileso" (2000), de Steven Soderbergh, é o primeiro título da série Y Parte III e o começo da nova colecção de DVD PÚBLICO dificilmente poderia ser melhor. Um monumental e ambicioso épico construído à volta do mundo da droga, põe em cena uma multiplicidade de personagens, através de três histórias separadas que a dado momento se interligam e tocam. Inspirado na minissérie televisiva inglesa "Traffik" (1989), o filme mantém alguns dos temas da matriz original - como a corrupção política ou a desintegração da unidade familiar -, aos quais acrescenta ainda as preocupações habituais na obra de Soderbergh: as dificuldades de comunicação e a quebra da confiança, pessoal e profissional.

Vencedor de quatro Óscares (melhor realizador, argumento adaptado, actor secundário - um fabuloso Benicio Del Toro, também premiado no Festival de Berlim - e montagem), "Traffic" mostra um cineasta no controlo total dos seus talentos, comandando de forma exímia um elenco de luxo e produzindo uma síntese perfeita entre classicismo e experimentação, as duas vertentes que têm composto desde sempre o seu cinema. Resultado: a consagração em Hollywood de um realizador esquecido desde a meteórica estreia de "Sexo, Mentiras e Vídeo" (1989), que é também o culminar de um processo de "ressurreição" iniciado com o notável "Romance Perigoso" (1998).