|
|
"O
Coração das Trevas", de Joseph Conrad,
Amanhã na Colecção Mil Folhas
Por MARIA JOSÉ OLIVEIRA
São tantas as referências que
gravitam em torno da novela "O Coração
das Trevas" (1899), de Joseph Conrad (n. 1857-m. 1924),
que esta página seria manifestamente insuficiente para
enumerar todas elas. Algumas, porém, apresentam-se
como incontornáveis (podendo ainda servir como convite
à leitura da obra). Registe-se, então, que "O
Coração das Trevas" inspirou a escrita
do argumento de "Apocalipse Now", de Francis Ford
Coppola, e que Orson Welles tentou uma adaptação
cinematográfica, chegando mesmo a escrever o guião.
Infelizmente (sobretudo para nós), nenhum estúdio
se mostrou interessado em financiar o projecto.
Apontem-se, ainda, mais algumas referências,
desta vez literárias: sobre esta novela, de apenas
131 páginas, escreveram André Gide (que foi
tradutor de Conrad para a Gallimard), Graham Greene, Jorge
Luís Borges, Virginia Woolf e Joyce Carol Oates, entre
outros literatos. Há tempos atrás, em entrevista
ao "Mil Folhas", Agustina Bessa Luís elegeu
"O Coração das Trevas" como o livro
da sua vida.
"O Coração das "Trevas"
é narrado pela personagem preferida do escritor - Charlie
Marlow, um marinheiro que "correu todos os mares",
bem conhecido dos leitores de Conrad - e ilustra, de forma
transparente, as virtudes das narrativas conradianas, nomeadamente
a elegância formal e a construção robusta
das personagens.
Sob as águas do Tamisa, a bordo da chalupa
"Nellie", Marlow revisita o passado, contando a
um grupo de marinheiros a aventura da subida do rio Congo,
em África. A narração da viagem é
a história de muitas descobertas - o confronto com
a repressão colonialista num território desconhecido
e hostil (a selva), e sobretudo o encontro com Kurtz, chefe
de um importante posto comercial nas margens do rio.
Os rumores em torno deste enigmático
homem, que "manda mais marfim do que os outros todos
juntos" e que consta ter-se transformado num "selvagem",
começam a intrigar Marlow, que, rendido a uma curiosidade
indizível, transforma a sua subida do Congo numa espécie
de perseguição a Kurtz. A viagem ao "coração
das trevas" é a procura deste homem, que o narrador
descobre já moribundo, protegido por um grupo de "discípulos"
armados. Neste encontro de Marlow e Kurtz, Joseph Conrad foi
muito generoso com os leitores, mas é preciso ler "O
Coração das Trevas" para compreender esta
dádiva. Resta apenas acrescentar que nesta obra, tal
como por exemplo em "Linha de Sombra", Conrad defende
a resistência dos homens. Contra o desespero, o caos,
a decadência.
|