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"O Crime de Lord Saville
e Outros Contos", de Oscar Wilde, na Colecção
Mil Folhas
O conto que dá o título ao livro
"O Crime de Lord Saville" conta a história
de um jovem aristocrata londrino do final do século
XIX, Artur Saville, que está noivo da bela Sibila Merton.
Tudo começa quando Lorde Artur conhece Septimus Podgers,
um quiromante que Lady Windermere convida para mais uma das
suas festas.
As exóticas festas de Lady Windermere
são uma "miscelânea de gente", nas
palavras de Wilde; verdadeiros "eventos sociais",
altamente concorridos, que primam pelo desfilar de personagens
"originais" e que habitualmente têm o condão
de reunir na mesma sala nobres de nacionalidades várias,
músicos de origem indefinida, políticos de orientação
demarcada e radicais anarquistas com tendências violentas,
entre outros.
No decorrer da festa, o senhor Podgers, após
efectuar a leitura de palmas de mãos oriundas de díspares
quadrantes da sociedade londrina de então, acaba por
ler a de Lorde Artur. Os dados são lançados.
Segundo Podgers, o jovem Saville está
destinado a cometer um homicídio. Após o choque
inicial provocado pela revelação, Lorde Artur
começa a encarar o seu fado não como um eventual
erro de leitura do quiromante mas antes como um obstáculo
a ultrapassar, uma missão que deve ser cumprida: tem
que assassinar alguém. Mais ainda: terá de o
fazer antes do casamento com Sibila, para que o enlace possa
concretizar-se sem que existam questões pendentes no
destino que lhe está traçado. O subtítulo
deste conto é "Um estudo sobre o dever moral"...
Lorde Artur decide fazer listas de pessoas
que lhe sejam próximas de forma a obter a vítima
ideal. Encontra o alvo perfeito, Lady Clementina Beauchamp,
uma velha senhora com problemas cardíacos e que é
sua segunda prima pelo lado da mãe. Mas este é
apenas o primeiro dos alvos de Lorde Artur. As suas tentativas
de homicídio, que consistem em planos aparentemente
infalíveis e de fácil execução,
acabam, no entanto, por revelar-se constrangedores fracassos,
o que leva a sucessivos adiamentos do casamento com Sibila.
Quando Lorde Artur consegue, finalmente, concretizar as suas
intenções, tal acontece de uma forma que lembra
as tragédias gregas ou os dramas shakespeareanos. Com
a diferença de que tudo acaba bem.
Embora se saiba que tal é de todo impossível,
não é completamente descabido pensar, aquando
da leitura de "O Crime de Lorde Artur Saville",
algo do género "Oscar Wilde devia ser fã
de Hitchcock". Aliás, será ainda menos
descabido imaginar Alfred Hitchcock folheando o conto de Wilde
e pensando, para consigo, "hum, esta história
dava um bom argumento".
Em "O Crime de Lorde Artur Saville",
conto publicado pela primeira vez em 1887, Oscar Wilde lança
um olhar crítico, por vezes impiedoso, à sociedade
londrina sua contemporânea. O modo retorcido como a
história se desenrola acentua o tom irónico
que Wilde lhe imprime. Para além deste, os "outros
contos" do livro são "O Fantasma de Canterville"
e os contos curtos "O Modelo Milionário"
e "A Esfinge Sem Segredos".
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