“O Quarto de Jacob”, de Virginia Woolf,
na Colecção Mil Folhas

Um livro não responde. Um livro pergunta. Qual é a pergunta? “Cada rosto, cada loja, cada janela de quarto, bar e praceta escura é uma imagem febrilmente virada – em busca de quê? É o mesmo com os livros. Que buscamos em milhões de páginas? Continuamos esperançosamente a voltar as páginas – oh, aqui está o quarto de Jacob.”

Jacob é o protagonista do terceiro romance de Virginia Woolf (1882-1941), o primeiro em que ela se liberta de uma narrativa mais linear. Sim, há uma história, mas não corre como um fio. Porque a vida de um homem não corre como um fio. Existe inteira num fragmento, não a conseguimos ver do princípio ao fim, atinge-nos por um instante, e depois escapa, já foi.

Ao terminar “O Quarto de Jacob”, no Verão de 1922, Virginia (Stephen em solteira, Woolf por casamento) escreveu no seu caderno de notas o verso em que o poeta romano Catulo se despede do irmão: “Atque in perpetuum, frater, ave atque vale” (“E para sempre, irmão, salve e adeus”*). Por baixo acrescentou: “Julian Thoby Stephen (1880-1906).”

Thoby era o irmão mais velho. Tinha (como Virginia e Vanessa) um rosto comprido, olhos claros, melancólicos, queixo e lábios proeminentes. Nas fotografias, parece belo (como Vanessa, e, por vezes, Virginia). O seu círculo de amigos em Cambridge foi um dos embriões do Bloombsbury Group.

No Verão de 1906, os quatro irmãos Stephen (o mais novo era Adrian) e uma amiga partem para uma longamente desejada viagem pela Grécia. Durante a estadia, Thoby apanha febre tifóide e morre pouco depois do regresso a Londres. Tinha 26 anos. “O Quarto de Jacob” é a saudação ao irmão que morreu. Uma vida, pontos intensos de luz.

Cambridge: “Dizem que o céu é o mesmo em toda a parte. Os viajantes, os náufragos, os exilados e os que estão a morrer reconfortam-se com esta ideia; e não há dúvida de que dessa superfície inviolada jorra consolo e até explicação para quem tenha tendências místicas. Mas sobre Cambridge – ou pelo menos sobre a capela de King's College – há uma diferença. No mar longínquo uma grande cidade projecta claridade para a noite. Será demais imaginar que pelas fendas da capela de King's College o céu penetrava mais leve, mais fino, mais espumoso do que o céu doutros lugares? Cambridge estará iluminada não só de noite mas também de dia?”

A Grécia: “[...] no dia seguinte o comboio deu lentamente a volta a uma colina em direcção a Olímpia e as camponesas gregas estavam no meio das vinhas; os velhos gregos estavam sentados nas estações a berrricar vinho doce. E Jacob, embora continuasse deprimido, nunca suspeitara quão tremendamente agradável é estar só; [...] Galopar destemperadamente; cair na areia esgotado; sentir a terra girar; sentir – positivamente – um ataque de amizade pelas pedras e relvas, como se a humanidade tivesse terminado; e quanto aos homens e mulheres, quero lá saber! – não podemos negar que este desejo se apossa de nós frequentemente.”

 

 
 
       

    
   

 
Virginia Woolf
 
 
   
 
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