"Pequenas Infâmias", de Carmen Posadas, na Colecção Mil Folhas

"Pequenas Infâmias" foi o livro que tornou Carmen Posadas conhecida do grande público. Antes disso, esta espanhola nascida no Uruguai tinha publicado já vários contos - grande parte dos quais para crianças - uma peça de teatro e outros romances. Mas é com esta história da morte misteriosa de um "chef" de cozinha conhecedor de importantes segredos, culinários e outros, que recebe o Prémio Planeta, em 1998, e passa a ter os seus livros publicados em todo o mundo e traduzidos em 16 línguas.

Figura conhecida da sociedade espanhola, Carmen Posadas foi apresentadora de um programa televisivo, desfilou como modelo e aparece frequentemente nas páginas das revistas. Mas encara com humor a sua dupla situação de escritora e figura do "jet set". "Hoje em dia jogamos muito com os estereótipos, e o que acompanha a imagem de escritora é muito rígido. A rapariga do 'jet set' também tem características muito determinadas, e não se misturam", explicou numa entrevista. "Por isso, quando as pessoas recebem uma informação ambígua ficam confundidas, e chegou uma altura em que ninguém me considerava do seu clube: os intelectuais consideravam-me frívola, os frívolos achavam que eu era demasiado intelectual; os da direita que eu era demasiado de esquerda e os de esquerda demasiado de direita [...] Não pertencia a nenhum clube".

Este estatuto de "outsider" - reforçado pelo facto de ter nascido no Uruguai e de ser filha de um diplomata, tendo passado a juventude em Inglaterra e na Rússia - permite-lhe até "retratar uma sociedade mais certeiramente, mais objectivamente".

A alta sociedade está presente em "Pequenas Infâmias", uma história em que um grupo de figuras no mínimo original se reúne em casa de um rico coleccionador de arte. Na manhã seguinte descobre-se um crime. E - tal como num policial clássico - (quase) todos podem ser culpados. Mas mais do que o desvendar do mistério, o que é interessante neste livro é a forma como Carmen Posadas traça o retrato de cada uma das personagens, cada qual com o seu segredo, a sua "pequena infâmia". O morto, claro, é aquele que os conhece a todos.

A história desenrola-se como um puzzle, em que as peças se vão encaixando e as ligações entre as personagens se vão tornando claras. Apesar das fraquezas de cada um, a autora trata-os quase com carinho, demorando-se nas descrições, geralmente divertidas, da forma como lidam como as suas pequenas tragédias particulares.

Nas entrevistas, Carmen Posadas descreve-se muitas vezes como uma angustiada. Mas o seu livro é sobretudo um relato cheio de humor e divertido da hipocrisia na alta (e na não tão alta) sociedade.

Tudo começa com um cozinheiro encontrado congelado numa arca frigorífica...


      “Sempre me interessou procurar o outro lado das coisas, talvez porque vivi sempre num mundo de aparências, onde todos representam um papel com uma máscara, chegando ao ponto de já não se saber o que é a máscara e o que é a verdadeira face.”

    
   

 
Carmen Posadas
 
 
De nacionalidade espanhola, Carmen Posadas (pseudónimo de Elena Miranda) nasceu em Montevideu, Uruguai, em 1953. “Pequenas Infâmias” foi Prémio Planeta em 1998.