"Deus Deslizava Atrás do Mouro" é o
novo romance de Agualusa
Acabou de ver sair o seu mais
recente livro de contos “Catálogo
de Sombras”, com histórias deliciosas como imaginar
Fernando Pessoa exilado no Brasil (pelo médico Ricardo
Reis?) à volta do candomblé. E já tem
um romance em fase de escrita. Título? Só provisório: “Deus
Deslizava Atrás do Mouro”. A ideia é fantástica
(e crioula).
PÚBLICO — Está a
escrever alguma coisa?
JOSÉ EDUARDO AGUALUSA — Um
romance. É uma
coisa muito diferente do que já fiz até agora.
Qual é o tema?
Bem,
eu não gosto muito de falar antes do livro sair.
Só depois, e mesmo assim com cuidado [risos]. Mais
uma vez é um desafio e mais uma vez também
não é um livro fácil. Mas estou a divertir-me
muito, com muita alegria.
Não é muito
sensível àquele
discurso do sofredor — alguns escritores, até na
pose das fotografias, estão com um ar depenado...
Não,
de todo! Eu procuro o contrário: o sentimento
de alegria! Escrever um livro é das melhores coisas
que pode haver. Não conheço muitas outras actividades
que me satisfaça tanto.
Qual é a história
do novo romance?
O livro é passado em Angola,
todo ele dentro de uma casa. O personagem principal é um
filho adoptivo de um alfarrabista (a casa é um depósito
de livros, portanto), e o ofício dele é “vender
passados” aos
novos ricos.
É um traficante de memórias. Ele diz: “Os
novos ricos já têm o futuro mas faz-lhes falta
o passado.” Então, ele vende “pacotes de passado”,
dá tudo rigorosamente, sem falhas: até fotografias
dos antepassados com a história de cada um deles.
Um dia — em Angola há neste momento muita gente interessada
no passado apresentável — chega um estrangeiro e diz-se
disposto a pagar bem para que o vendedor de passados lhe
invente um.
Acontece que ele inventa-lhe uma história com recortes
de jornais e tudo, com toda a genealogia do estrangeiro.
Mas diz-lhe: “O que você não pode é ir à Chibia” (uma
povoação muito especial, fundada por brasileiros,
madeirenses e “bohers”, no Sul de Angola). O estrangeiro é um
fotógrafo de guerra e, um dia, vai visitar a campa
do pai... Então, a vida que o vendedor de passado
tinha inventado, começa a acontecer.
Já tem título?
Provisório,
sim. “Deus Deslizava Atrás do
Mouro”.
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