"O Cônsul Honorário", de Graham Greene

Por José Vítor Malheiros

O escritor britânico considerava-o o seu melhor romance

"O Cônsul Honorário" é não só um dos mais famosos livros de Graham Greene (e um dos muitos que deu origem a um filme, com Michael Caine no papel principal) mas aquele que o próprio autor considerava como o seu melhor romance.

O enredo de "O Cônsul Honorário", segundo conta o próprio Greene num dos seus livros autobiográficos ("Ways of Escape"), nasceu de um sonho que teve. Um sonho sobre um embaixador americano real, "muito apreciado pelas mulheres e bom jogador de ténis", que Greene tinha encontrado num bar. O desenvolvimento da história haveria porém de ampliar a dimensão de duas personagens inicialmente laterais e fazer desaparecer de todo o embaixador, que no livro passa a uma mera referência.

O romance, escrito entre 1970 e 1973, tem como cenário uma cidade não identificada do norte da Argentina, mas o pano de fundo é ocupado pela brutal ditadura do general Alfredo Stroessner, que governou o Paraguai durante 35 anos. Como a maior parte dos romances de Graham Greene, também este possui uma trama central político-policial: um grupo de guerrilheiros paraguaios decide raptar um embaixador americano para exigir como resgate a libertação de presos políticos. Mas há uma confusão de identidade e quem acaba por ser capturado por engano é Charles Fortnum, um cônsul honorário britânico e bêbado diplomado, sempre oscilando entre o cinismo britânico e o sentimentalismo etílico, figura tragico-cómica da cidade, sem o mínimo valor de troca em termos políticos. A história é relatada (ainda que não na primeira pessoa) através dos olhos do médico Eduardo Plarr, um indivíduo aparentemente desprovido de paixões, que acaba por se ver inexoravelmente arrastado para o centro da tragédia e que é o espelho onde se vão reflectindo todos os outros personagens.

Curiosamente, Greene esteve a dado momento tentado a abandonar o romance, devido à ocorrência de um caso real que se assemelhava à sua história - um cônsul paraguaio raptado por engano, em lugar de um embaixador.

Greene diz que "O Cônsul Honorário" foi um dos livros que mais lhe custou escrever, mas a fluidez da narrativa não se ressente disso. Tragédia e melodrama, romance de acção mas, acima de tudo, drama moral - como todos os livros de Greene - onde a fé e o desespero, o destino e a vontade, o amor e o ciúme, a culpa e a redenção, a traição e a lealdade se enfrentam em cada meandro do texto, "O Cônsul Honorário" não pode ser lido sem um acelerar da pulsação, até à apoteose final.

    
   

 
Graham Greene