Dona Flor e seus Dois Maridos
Ricardo Filipe Pereira Cardoso
Caro Jorge Amado:
Espero que ao te escrever esta carta, te vá encontrar num canto cheio de
paz, harmonia e alegria nesse céu imenso para aonde fugiste há pouco
tempo á procura da eternidade. Por mim, ocupas o canto do meu coração e
nele, seguramente, já encontrastes toda a eternidade que vinhas á
procura durante a tua vida.
Meu pai, ensinou a tratar por tu as pessoas que amo e admiro, por isso,
como já reparastes trato-te por tu, simplesmente porque te admiro e amo
a tua escrita.
Num dia chuvoso, peguei no livro de bolso"Capitães de Areia", já te
conhecia, mas nunca tinha te tinha lido, pois a partir daí cresceu um
admiração tão grande e tão intensa que só quando a morte me chamar
acabará toda a admiração que sinto.
Escusado será dizer que devorei o livro, depois veio "Jubiabá", e "Dona
Flor e seus dois Maridos", e agora até morrer irei devorar todas as tuas
obras.
Não chorei quando soube da tua morte, naquele tempo os sentimentos de
rebeldia de adolescência ainda germinava em mim, mas hoje sinto-me
cruelmente devastado por saber que esta carta não vai ser respondida por
um escritor que admiro.
A vida é uma passagem, isso já eu sei, mas a tua não foi, a tua vida foi
um marco para todos os que tanto te admiram, para a tua Bahia amada, e
para o teu Brasil querido.
Vi no outro dia a tua mulher, ela está linda, não te esquecerá nunca, tu
sabes disso, chorei com ela, ela manda-te um beijo doce, eu prometi que
iria transmitir esse beijo, só não posso transmitir toda a docura, amor
e carinho daquele beijo...ela é unica.
Agora tenho que ir, vou cumprir um sonho, viver feliz e sempre com um
sorriso nos lábios que foi aquilo que fizestes ao longo da tua vida.
Um abraço carinhoso, sei que não me responderás a esta carta mas sei que
vais ler nesse teu cantinho que Deus arranjou para ti, o canto dos
imortais.
Do teu admirador