O Ano da Morte de Ricardo Reis
Adelaide Carrêlo
Caro Amigo José Saramago,
Escrevo-lhe estas breves palavras, para lhe dar conta de como eu e os
seus e meus amigos nos encontramos sobre a jangada de pedra a naufragar
no meio do Atlântico. Esperavamos pelo Ricardo que chegava do Brasil para
se despedir de
Fernando Pessoa, quando tudo aconteceu. Blimunda e Baltasar
tinham vindo
ter comigo nessa manhã, pois eu queria falar com ela ainda em jejum,
porque há coisas que só ela me poderá ajudar. Talvez ela entendesse
porque é que os homens estão a ser afectados pela cegueira e pelo
egoísmo e nada fazem para se levantarem do chão.
Veio connosco também o Sr.José da Conservatória, também ele nos contou
que o nome que procurou no meio de tantos, não existia. Tal como ele,
nós procuramos a vida inteira por alguém que nunca conseguiremos
encontrar.
Foi por tudo isto que nos separámos, a terra começou a abrir-se e o
nosso grupo ficou do lado mar e assim começámos a afastar-nos de todos
os outros. Se calhar a nossa consciência pesava mais que o outro lado,
porque nós não queremos ser iguais aos que não vêem. Esperando por um por
um lugar onde ancorar, despedimo-nos
Até sempre