Ficções

Fernando António Rodrigues Rocha

Carta ao autor de Ficções, que tanto quanto sei chama-se Jorge Luís
Borges. Gostava que soubesses que percorri uma biblioteca à procura do
catalogo.

Subi e desci escadas , deslizei vagarosamente os meus olhos pelos
títulos dos livros ( devo confessar que me escaparam alguns). Levava um
pequeno espelho, para ler os títulos invertidos de alguns , os mais
suspeitos. Fiz também uma pesquisa na base de dados mas não o
encontrei.Segui as tuas instruções mas... Onde estará esse maldito
catalogo, o Livro dos livros. Sei por fontes seguras que colegas
homónimos ( cujo nome desconheço) distribuídos equitativamente pelas
bibliotecas de todo o mundo, também falharam na sua demanda. De uma
forma minuciosa sondavam o catalogo, por todos os espaços (in) visíveis
das bibliotecas, meticulosamente traçaram mapas do seu caminho,para
depois repetirem os mesmos passos em diferentes horas do dia , Nada...
Será que está numa biblioteca pintada pela Vieira da Silva? Devo confessar
que esta pesquisa proporcionou-me bastante prazer, apesar
de ser considerada falhada. (Ou melhor, se é só pesquisa não pode ser
falhada). Resolvi então sentar-me no jardim, a recapitular cada
movimento que realizei, cada segundo profusamente visivél. A minha
memória uma máquina de filmar digital, tal como o Funes .mas desta vez a
biblioteca estava muito mais agradável. Não tinha porta, apenas um
limbo.Tinha uma  luz quente, num espaço constituído pelas uniões das
intersecções das linhas de vários meridianos desconhecidos e uma
floresta. Os  livros que encontrava continham todos, sem excepção,
ilustrações e música que completavam os espaços vazios entre as
palavras. As palavras que eu não entendia, que tinham combinações de
letras que nunca tinha visto. Mas cujo sentido, cujo objecto, facilmente
encontrava, seguindo na direcção contrária das projecções dos desenhos
deste, digamos alfabeto.... a biblioteca situava-se numa cidade perto de
um vulcão, e a lava habitava no interior da terra, como mel....

..Desculpa, mas perdi-me um pouco. E o tempo não é infinito, pois não?
Não era esta a pergunta que gostaria de saber a resposta, o objecto
primeiro desta carta era perguntar se já tinhas encontrado o catalogo?,
O livro dos livros!, ou se nos podias dar algumas pistas, sei lá um
mapa, um diagrama, uma fotografia.

No entanto, depois desta carta acho que não será a melhor altura para a
fazer...não, prefiro não...
Mas ficas com a confirmação ( como se fosse necessário) que vou
continuar à procura!

Adeus. AH ! o meu nome é ...