Perfil
O grande provocador

Eugene Luther Vidal é um patrício, filho de uma grande família tradicional dos Estados Unidos. Nasceu em 1925 na academia militar de West Point, onde o pai era instrutor, e passou a infância na capital federal, Washington, entre os notáveis da época, na casa do avô, Thomas P. Gore, senador democrata do Oklahoma. O avô influenciou-o de tal maneira que, adolescente, resolveu que “Gore” seria daí em diante o seu nome próprio. Foi já com ele que assinou o seu primeiro romance, “Williwaw”, aos 19 anos, ainda prestava serviço no Exército.

Entre 1947 e 1949 viveu dois anos em Antigua, e foi neste período que escreveu “A Cidade e o Pilar” (1948), elogiado pela crítica e, ao mesmo tempo um choque, por causa da personagem central, homossexual (Gore Vidal assumiu a sua homossexualidade quase desde sempre). Os anos 50 foram dedicados a Hollywood, como argumentista (reescreveu, por exemplo, o script de “Ben-Hur”). Regressou à cena literária na década seguinte, primeiro com o impressionante “Juliano” (1964), narrado como se fosse um diário do imperador romano, depois com “Washington D.C.” (1967), a primeira das suas “Crónicas Americanas”, e com o clássico e perturbante “Myra Breckenridge” (1968).

Oscilando sempre entre o romance e a história, Vidal surpreendeu em 1981 com “Criação”, a memória de um filho imaginário do deus persa Zoroastro, e onze anos depois com “Ao vivo do Gólgota”, que nos dá acontecimentos da Bíblia como se fossem transmitidos na televisão. Estes são apenas dois títulos formalmente inovadores numa obra com dezenas de livros publicados, entre romances e ensaios.

O neto do senador Gore foi periodicamente acometido por vários flirts com a política que critica e odeia. Em 1960 foi candidato derrotado ao Congresso, por Nova Iorque, numa lista de democratas e liberais, e em 1982 tentou chegar a senador pela Califórnia. Foi o segundo mais votado entre nove candidatos e recolheu meio milhão de votos. Primo do ex-vice-Presidente Al Gore, disse sempre que se este fosse escolhido para a Casa Branca, então os norte-americanos estariam a votar "no Gore errado".

Outra paixão é a Itália, onde se estabeleceu num “part-time” cada vez alargado (é lá que passa agora a maior parte do ano) desde os anos 60. Tem casa em Ravello, sobre a costa amalfitana.

Outra atracção é a Sétima Arte. Apareceu em “Roma”, de Fellini, no papel de... Gore Vidal, e em 1994 colaborou com outro liberal com posições pouco conformes com o sistema, o actor-realizador Tim Robbins, em “Bob Roberts”.

A sua relação de amor-ódio com os Estados Unidos, bem expressa na colecção de ensaios “United States”, valeu-lhe em 1993 o National Book Award. Em 1995 publicou uma notável autobiografia, “Palimpsesto”, na qual fica mais uma vez bem patente a sua proximidade com a “família real” americana, os Kennedy (ele considera JFK o pior Presidente que a América alguma vez teve...), mas também com outros notáveis como Henry James, Tennessee Williams ou Anais Nin.

Cada vez mais crítico do poder no seu país, Vidal teve mesmo dificuldade em encontrar um editor para o ensaio “11 de Setembro”, que aparece na sua penúltima obra publicada, o ano passado, “Perpetual War for Perpetual Peace”. O título da última diz tudo. É: “Dreaming War: Blood for Oil and the Cheney-Bush Junta”.

radução? Sonhando com a guerra: sangue por petróleo e a junta Bush-Cheney.