|
A Gravata
Série
arte de viver
|
|
|
Com a qualidade e prestígio a que as edições
Flammarion nos habituaram, o PÚBLICO iniciou a 16 de Março
uma pequena enciclopédia organizada de forma alfabética,
antecedida por uma introdução de 20 páginas.
Páginas duplas para os temas mais importantes e essenciais
à compreensão do tema, pequenas notas para os assuntos
mais técnicos ou anedóticos: no “ABCedário
do Renascimento Italiano”, o segundo livro da série,
fala-se de Donatello a Miguel Ângelo, de Maquiavel a Leonardo,
de Piero della Francesca a Boticelli, figuras de um movimento que
mudou a arte e a ciência e se iniciou, simbolicamente, em
1401 em Florença. A aproximação a cada tema,
com um grafismo elegante e explorando fortemente a iconografia,
faz-se sempre de modo triplo: científica, prática
e cultural. Um asterisco assinala as remissões, conduzindo
o leitor de entrada em entrada. A colecção é
escrita por especialista reputados — historiadores de arte
e da literatura, conservadores de museu, arqueólogos, astrofísicos,
geógrafos, etnobotânicos, etc. — que asseguram
a qualidade e o rigor dos textos. Uma cronologia, um índice
e uma bibliografia seleccionada completam o livro, cujo tamanho
permite também a sua utilização como guia num
passeio ou em viagem.
Os livros estarão nas bancas a partir de sábado e
poderão ser comprados com qualquer edição seguinte
do jornal a 4,9 € jornal.
|
|
ABCedário
da Gravata
Objecto de culto
Em meados dos anos 60, em plena rebelião no mundo ocidental
contra tudo o que era tradição, a começar pelo
vestuário, não foram poucos os que vaticinaram o fim
da gravata. Teria sido notável, ao fim de mais ou menos 350
anos de história. Mas não aconteceu. Houve até
uma notável metamorfose. Movimento hippie? Paz e amor? Então
encham-se as gravatas de padrões floridos e coloridos e,
já agora, que alarguem até à desmesura. O sinal
de vitalidade e adaptação aos tempos mostrou uma vez
mais que não seria fácil atirar com o adorno para
o caixote do lixo da História. Pelo contrário, pouco
depois, no fim dos anos 70, até se deu uma espécie
de revivalismo que conquistou mesmo para a gravata algumas vanguardas
musicais (grupos de “new wave”, por exemplo, adoptaram
umas tiras estreitas).
Hoje, no princípio do século XXI, a gravata continua
de certo modo associada a estereótipos: o do executivo “obrigado”
a usá-la e o de situações formais. O abalo
causado pelos anos 60 deixou afinal uma marca importante: o uso
da gravata tornou-se facultativo. E também radica nessa “filosofia
anos 60” (em Portugal também se poderia falar numa
marca deixada pelo 25 de Abril) a opção (geralmente
ideológica, raramente estética) dos que insistem em
nunca, jamais, a usar. Mas, na realidade, essa não obrigação
de pôr gravata em todas as ocasiões acabou, também,
por a libertar. É possível, e há milhões
que o fazem, usá-la por motivos puramente estéticos.
Este ABCedário da gravata é para utilizadores diários,
ocasionais e, também, para os rejeicionistas.
Ele traz-nos a história de um adorno que surgiu como identificação
restrita de um pequeno grupo de mercenários e que se foi
impondo paulatinamente nas cortes e salões da Europa (a França
primeiro, a Inglaterra depois) até se tornar um objecto de
moda que no século XIX foi inclusivamente adoptado pelos
nomes mais destacados do movimento feminista.
Para muitos, a gravata é um objecto de culto. Sobre ela importa
conhecer (e saber fazer) os nós clássicos (o simples,
o simples duplo, o cruzado, o pequeno, o papillon, o Ascot, o Windsor,
o semi-Windsor) mas também os outros. Há tratados
sobre isso. E importa conhecer os grandes criadores: a casa Ascot,
a casa Richel, a extraordinária casa Charvet. Há coleccionadores
com centenas de exemplares. Códigos de bem vestir são
mais modestos, mas não muito, na recomendação
do número correcto de gravatas que um homem deve ter para
não ser apanhado desprevenido perante qualquer ocasião.
Por exemplo, a um director de empresa estão recomendadas
48, ao quadro dinâmico 24. Extraordinariamente, nesta linha
de conselhos, um “jovem solteiro” está precisamente
entre os dois: o seu armário deve ter 36.
Algumas serão sempre preferidas e podem até não
morrer com os anos, ou seja, passar de moda. Outras serão
objectos de paixão. Como identificar um destes? Talvez naquele
caso em que se compra uma extraordinária gravata para a seguir,
por imperiosa necessidade, ter de ir comprar um fato ou um casaco
que combine com ela.
|
Sabia que...
|
|
- Na Guerra dos Trinta Anos, que devastou
a Europa entre 1618 e 1648, a França recorreu aos serviços
de um particularmente feroz corpo de elite constituído por
mercenários recrutados na Croácia. Usavam ao pescoço
um lenço atado de forma diferente. Quando foram recebidos
na corte francesa, este lenço causou tanto impacto como a
sua condição de “heróis”. E em
breve nos salões parisienses se passeavam cavalheiros de
lenço ao pescoço, reinventando a moda croata de acordo
com a sua própria imaginação. Croata-gravata:
a origem da palavra estará aqui, ou pelo menos é essa
a hipótese que recolhe mais adeptos. Data de nascimento:
mais ou menos 1650.
- Desde meados do século XVII que a gravata tomou muitas
formas e bastantes nomes – papillon, lavallière, regata,
bandana, etc. Mas foi só no século XX que surgiu a
gravata tal como a conhecemos ainda hoje. Esta peça, cosida
em três partes e cortada em viés, foi patenteada no
ano de 1925 por um norte-americano: Jesse Langdorf.
- Uma das muitas coisas bizarras que chegaram nos anos 70 foi a
moda das gravatas de malha ou de lã. Chegaram a ser avassaladoras
– no número e no mau gosto. Felizmente que o tempo
repôs as coisas no seu devido lugar e a seda, de maior ou
de menor qualidade, recuperou o seu lugar como o tecido por excelência
em que deve ser feita uma gravata, mesmo que hoje ainda tenha de
batalhar duramente com os tecidos sintéticos.
- Era inevitável que a gravata fosse submetida a uma análise
da sua simbologia. Parece evidente que ela confere uma ideia de
verticalidade. Mas outras interpretações são
menos rectilíneas. Por exemplo, a de que ela é, acima
de tudo, um símbolo fálico. E os padrões. Bom,
então, se prefere gravatas às riscas é porque
existe de si um enorme anseio de disciplina. |
|