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O Budismo
Série
religião
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Com a qualidade e prestígio a que as edições
Flammarion nos habituaram, o PÚBLICO iniciou a 16 de Março
uma pequena enciclopédia organizada de forma alfabética,
antecedida por uma introdução de 20 páginas.
Páginas duplas para os temas mais importantes e essenciais
à compreensão do tema, pequenas notas para os assuntos
mais técnicos ou anedóticos: no “ABCedário
do Renascimento Italiano”, o segundo livro da série,
fala-se de Donatello a Miguel Ângelo, de Maquiavel a Leonardo,
de Piero della Francesca a Boticelli, figuras de um movimento que
mudou a arte e a ciência e se iniciou, simbolicamente, em
1401 em Florença. A aproximação a cada tema,
com um grafismo elegante e explorando fortemente a iconografia,
faz-se sempre de modo triplo: científica, prática
e cultural. Um asterisco assinala as remissões, conduzindo
o leitor de entrada em entrada. A colecção é
escrita por especialista reputados — historiadores de arte
e da literatura, conservadores de museu, arqueólogos, astrofísicos,
geógrafos, etnobotânicos, etc. — que asseguram
a qualidade e o rigor dos textos. Uma cronologia, um índice
e uma bibliografia seleccionada completam o livro, cujo tamanho
permite também a sua utilização como guia num
passeio ou em viagem.
Os livros estarão nas bancas a partir de sábado e
poderão ser comprados com qualquer edição seguinte
do jornal a 4,9 € jornal.
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ABCedário
do Budismo
Oceano da sabedoria
Depois de ler “O Abcedário do Budismo”, o
leitor fica preparado para tudo. Quando alguém lhe disser
que está a estudar “dharma” (a lei búdica)
para se libertar do “samsara” (transmigração
sem fim dos seres) ou que descobriu as “quatro nobres verdades”
e que está a pensar entrar para o “shanga”
(comunidade dos crentes: os monges, as monjas e os leigos) ou
quando o convidarem para ir ouvir um ensinamento do actual “oceano
da sabedoria”, o leitor já sabe do que se está
a falar. Saberá que esse ensinamento será dado por
aquele que é considerado uma reencarnação
humana do Bodhisattva Avalokiteshvara, ou, por outras palavras,
irá ouvir um ensinamento dado por Tendzin Gyatso, o 14º
Dalai Lama tibetano, que visitou em Portugal em 2001. É
por isto, por ser uma pequena enciclopédia-glossário
que combina história, arte e religião, que “O
Abcedário do Budismo” é um livrinho muito
útil para ter em qualquer biblioteca, mas não só.
O livro, tal como todos nesta colecção, tem umas
belas fotografias a cores e o papel é bom.
Esta obra inicia-se com uma breve história do budismo (“Entre
o mito e a realidade: a figura de Buda”, “Nascimento
de uma literatura canónica”, “Uma religião
missionária”, “Uma religião sem dogma
nem verdade revelada”, “As quatro nobres verdades”,
“O alargamento da via para a salvação: o Mahayana”
e “A eclosão de uma arte e de uma civilização”).
Aí ficará a saber, por exemplo, que “O Iluminado”
(Buda), “O Sábio dos Shakya” (Shakyamuni),
“O Bem-Aventurado” (Bhagavat), ou ainda “O que
veio à realidade” (Tathagata) são alguns dos
nomes que se dá a Siddhartha Gautama. Da sua existência
histórica muito pouco se sabe. Terá nascido na primeira
metade do século V antes da nossa era, em Kapilavast e
na sequência de provas cruéis resolveu deixar os
seus (já tinha um filho) e lançar-se numa vida de
religioso errante para encontrar a resposta à pergunta:
“Para quê viver, quando ‘tudo é dor’(sarvam
dukham)?” Recebeu ensinamentos de vários mestres
e rejeitou-os. A acreditar na tradição, depois de
uma noite de meditação descobriu as respostas às
perguntas que o afligiam: “Recebendo então a iluminação
— para ver a verdade suprema, para reconhecer a realidade
da dor, a origem da dor, o fim da dor e a via que leva ao fim
da d —, elabora uma doutrina nova que atr numerosos discípulos
e que pregará ao longo dos cerca de 40 anos que lhe restam
de vida (...).” E o leitor saberá mais, pois no livro
segue-se o abecedário propriamente dito: são várias
entradas relacionadas com os fundamentos da doutrina, o contexto
histórico e o contexto cultural. Por fim, uma cronologia
e uma bibliografia.
Resta dizer que os autores são Helène Bayou e Amida
Okada (ambos conservadores do Museu Nacional d Artes Asiáticas
— Guimet) e Béréni Geoffroy-Schneiter (jornalista
e historiadora de arte).
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Sabia que...
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- Atribui-se ao próprio Buda a
fundação de uma comunidade de monjas. Consentindo em
abrir a comunidade às mulheres, o Buda impôs-lhes, no
entanto, regras de disciplina muito mais rigorosas que as que decretara
para os monges, estipulando, além disso, que elas deviam sempre
obediência e respeito aos seus colegas — mesmo que se
tratasse de noviços.
- Um dos objectos de culto dos peregrinos budistas tibetanos é
o rosário composto de 108 contas, que serve para contar o
número de orações e cujas contas se percorrem
com a mão direita. Em repouso transporta-se enrolado no punho
esquerdo. Pode ser feito com madeira, grãos de cereais, vidro,
pedras semipreciosas, coral, turquesa, jade e por vezes com fragmentos
de ossos humanos, retirados de 108 calotes cranianas!
- Borobudor, o imponente santuário situado na ilha de Java,
era em meados do século VIII uma pirâmide inacabada
destinada ao culto hindu. Mas os soberanos Shailendra decidiram
transformá-lo num stupa búdico: possui cerca de 1460
baixos-relevos narrativos, aos quais se juntam 504 imagens de Buda.
- Os deva, deuses ou seres celestes, constituem a quarta categoria
de seres venerados no panteão búdico, depois dos budas,
dos “bodhisattva” e dos Reis de Ciência (personificações
dos mantra). No contexto do budismo os deuses estão longe
de ser vistos como omnipotentes, livres e eternos. Fora da experiência
da iluminação permanecem submetidos ao princípio
da retribuição dos actos e ao ciclo de renascimentos,
ao mesmo nível que os homens.
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