29-01-2004 Uma das incursões do herói pelo cinema de animação deu origem a este álbum. É uma versão aos quadradinhos da longametragem em que Tintim e os seus amigos voltam a enfrentar Rastapopoulos CARLOS PESSOA Se o leitor está à espera de encontrar amanhã à venda com o PÚBLICO uma aventura “normal” de Tintim, prepare-se: “Tintim e o Lago dos Tubarões” é a versão aos quadradinhos da longa-metragem de animação feita em 1972 pela Belvision e não um álbum de banda desenhada igual a todos os outros até agora publicados. Como é óbvio, há uma história contada que, aliás, se descreve em poucas palavras. Tintim, Milu e Haddock, mais os Dupond(t), regressam à Sildávia pela última vez, numa aventura que tem como ponto central a invenção, pelo professor Girassol, de uma máquina revolucionária que permite duplicar objectos. O conhecimento da existência deste aparelho aguça a cobiça de Rastapopoulos (o herói julgava-o morto), que dedicou os últimos anos da sua vida a acumular obras de arte roubadas numa imensa caverna situada por baixo do lago que dá o nome a esta história. Graças à ajuda de duas crianças sildavas, Tintim consegue frustrar uma vez mais os desígnios do malfeitor. Se é verdade que o enredo da história está a anos-luz do fulgor a que Hergé habituou a legião mundial de admiradores, estes poderão estranhar também a fórmula gráfica utilizada no álbum. Com efeito, os personagens parecem “deslizar” sobre um cenário que não pertence ao mundo em que estão situados. Esse efeito é uma consequência inevitável da transposição da história do cinema para a banda desenhada, responsável pela rigidez plástica do desenho. A impressão é tão forte que chega a ser paradoxal — há mais mobilidade e expressividade nas pranchas desenhadas por Hergé em qualquer das autênticas histórias aos quadradinhos do que nas sequências animadas do filme, que chegou ao grande ecrã em Dezembro de 1972 e foi também exibido em Portugal. Não é por acaso que “Tintim e o Lago dos Tubarões” aparece sem a habitual assinatura do criador belga, pois este não pode ser directa e exclusivamente responsabilizado por uma obra que foi desenvolvida pelos “Studios Hergé” no contexto da produção do filme. É também essa circunstância que explica o facto de esta aventura, ao contrário de todas as realizadas depois da Segunda Guerra Mundial, não ter saído na revista “Tintin”, mas directamente em álbum, em 1973. Outra singularidade consiste na metodologia adoptada na realização da história. Uma primeira longa-metragem de animação feita em 1969, “O Templo do Sol”, baseou-se na história de banda desenhada com o mesmo nome publicada na segunda metade dos anos 40 — embora tenha sido profundamente remanejada. Desta vez, optou-se por um argumento original, escrito por Greg, conhecido autor de BD que criou, entre outras, a série Achille Talon. Os meios financeiros e humanos postos à disposição da Belvision — uma empresa belga criada por Raymond Leblanc, um dos fundadores da revista “Tintin” — foram consideráveis, pois uma equipa de mais de 150 pessoas trabalhou durante 15 meses na realização do filme. Embora o resultado final não possa ser considerado brilhante — não agradou a bedéfilos nem a cinéfilos —, o projecto esteve longe de ser um falhanço, pois deu a conhecer Tintim a públicos muito mais vastos do que os tradicionais consumidores de banda desenhada. |