18-12-2003
O Yéti, uma lenda conhecida no Ocidente há mais de um século
Por Teresa Firmino

Tintim, o capitão Haddock e vários “sherpas” conseguiram a proeza de dar de caras com o Yéti, o Abominável Homem das Neves, depois de andarem a ouvir os gritos da criatura. Já muita gente disse que viu o Yéti, e até apresenta fotografias como provas, mas nenhuma era irrefutável.

A lenda no Ocidente do Yéti começou, tanto quanto se sabe, em 1832, quando B.H. Hodgson, representante britânico no Nepal, fez referência a uma criatura bípede, meio símia, meio humana e coberta de pêlos no “Journal of the Asiatic Society of Bengal”. Ouviu falar dela aos “sherpas”, que diziam ser um demónio.

Mas a criatura manteve-se discreta até 1889, ano em que o major britânico L.A. Waddell disse ter descoberto estranhas pegadas na neve. Eram de uma criatura peluda, disseram-lhe os “sherpas” que o guiavam, e foi assim que pela primeira vez um ocidental viu vestígios do Yéti. No livro “Among the Himalaias”, Waddel escreveu: “A crença nestas criaturas é universal entre os tibetanos.”

De facto, na Ásia Central e na Mongólia a existência do Yéti é mitológica: surge desenhado em grutas e páginas de antigas enciclopédias, pulando pelas florestas ou levando nos braços mulheres e animais.

Começou a ser conhecido em 1925 por Yéti, nome que resultou do termo “yeh-teh”, que no dialecto “sherpa” significa “a coisa”. Mas o nome por que o mundo o conhece e a sua alcunha supostamente atemorizadora, o Abominável Homem das Neves, surgiu em 1921, com o tenente Howard-Burry. Este foi o primeiro ocidental que relatou ter visto a criatura, numa expedição ao Monte Evereste. Tinha três vezes o tamanho de um homem. “Parecia um homem mas não era”, disse um “sherpa” a Howard- Burry. Mas quando este contou a história a um jornalista, este descreveu-o como o Abominável Homem das Neves. A alcunha pegou.

Ao longo do século XX, volta e meia relataram-se avistamentos do Yéti, e em particular de pegadas. Para os cépticos, porém, não passam de marcas de ursos. Também houve quem dissesse ter ouvido os gritos do Yéti ou até ter fotografias, como o famoso alpinista italiano Reinhold Messner, em 1997. “O Yéti esteve a 20 metros de mim e fotografei-o”, disse Messner ao semanário austríaco “News”. “É um animal de pêlo claro que mede cerca de 2,20 metros de altura, vive de noite e come iaques. O Yéti, ‘a priori', é inofensivo. Mas tornar-se agressivo quando se sente atacado.”

Também tem havido expedições em busca do Yéti, descrito como tendo cabelo até aos ombros, cabeça cónica, andar encurvado e braços compridos, até aos joelhos. Em Agosto deste ano, a BBC noticiou que a equipa do japonês Yoshiteru Takahashi foi procurar o Yéti, no Monte Dhaulagiri, no Nepal. Mas outro japonês, Matako Nabuka, que passou 12 anos a estudar as línguas dos Himalaias, no Nepal, Tibete e Butão, tem uma interpretação mais simples, que expôs em Setembro. O Yéti não passa do urso castanho dos Himalaias, que na região é conhecido por “meti”. Mera curiosidade turística ou não, o certo é que para haver Yétis teria de haver um certo número de indivíduos. Onde está então o Yéti, essa figura solitária encarada com um misto de simpatia e pena?