14-11-2003
Dupond e Dupont, Dois Gémos Famosos

Teresa Firmino

De repente, duas figuras iguaizinhas espreitam por uma porta e entram em cena. Estão vestidas a rigor, fato preto completo, bengala e chapéu de coco. São os famosos gémeos Dupond e Dupont. A primeira aparição nas aventuras de Tintim destes gémeos, que também copiaram entre si a profissão de detective, é precisamente no álbum "Os Charutos do Faraó", que começou a ser publicado em 1932.

Além de ambos serem desastrados, costumam manifestar o facto de serem uma cópia genética um do outro nas palavras. "Palavra de Dupond, ele não irá longe!" Ao que o outro retorquiu: "Direi mesmo mais: ele não irá longe, palavra de Dupont!"

Os gémeos sempre fascinaram os outros, nem que seja por questionarem a ideia de que cada ser humano é único. Eles também o são, mas também têm muitas semelhanças. Hergé não escapou a esse fascínio, mas quando criou Dupond e Dupont, o nascimento de gémeos ainda não era tão frequente como nos últimos 25 anos.

O aumento de gémeos está associado às técnicas de fertilidade. O primeiro bebé-proveta, a inglesa Louise Brown, nasceu em 1978. Em Julho, comemorou 25 anos e voltou, tal como quando nasceu, a encher páginas de jornais. Em Portugal, o primeiro bebé-proveta nasceu a 25 de Fevereiro de 1986. Chama-se Carlos Miguel Saleiro e é jogador de futebol, integrando a selecção nacional de sub-17.

Em geral, apenas um por cento dos nascimentos produz gémeos, mas a percentagem pode chegar aos 15 a 30 por cento na fertilização "in-vitro". Nestas técnicas, fertilizam-se vários ovócitos com espermatozóides e depois implantam-se no útero vários embriões ao mesmo tempo, para aumentar as taxas de sucesso. Só que podem vingar todos, ou pelo menos dois, e os pais acabam por ter gémeos nos braços.

Os seis gémeos que uma mulher da Madeira deu à luz, em 2002, na Maternidade Alfredo da Costa, não resultaram da transferência de embriões, mas de um tratamento hormonal, para estimulação ovárica, para em seguida fazer-se a colheita de ovócitos. O problema foi que a seguir a esse tratamento houve relações sexuais, apesar de terem sido proibidas pelos médicos. Foi a primeira vez que se registou em Portugal o nascimento de seis gémeos, mas nenhum sobreviveu.

Diz-se que estes gémeos, que também podem surgir naturalmente, sem a intervenção dos médicos, são fraternos, ou dizigóticos, pois resultam da fertilização de vários ovócitos por vários espermatozóides. Logo, não têm a mesma composição genética e podem ser de sexos diferentes.

Dupond e Dupont não pertencem a este tipo de gémeos. Como espelho um do outro, são gémeos idênticos ou monozigóticos: provêm de um único óvulo fertilizado, que depois se separa e dá origem a dois bebés geneticamente idênticos, do mesmo sexo. Por outras palavras, são clones.