14-11-2003 Na aventura de hoje, três estreias: os irmãos Dupond(t), Oliveira da Figueira e Roberto Rastapopoulos Port-Said, Suez, Bombaim, Colombo, Singapura, Hong Kong, Xangai. O programa da viagem de Tintim em direcção ao Oriente fica traçado desde as primeiras imagens. A partir daqui, o leitor só tem de se deixar levar pelos caminhos da aventura traçados por Hergé. E assim acontece nesta banda desenhada, disponível a partir de hoje, que começou por se intitular "As Aventuras de Tintim, Repórter no Oriente" e os leitores conhecem hoje como "Os Charutos do Faraó". O périplo prossegue em "O Lótus Azul", álbum que será distribuído com o PÚBLICO na próxima semana. Um papiro esvoaçante no convés do transatlântico em que Tintim viaja introduz de imediato o enigma proposto ao herói: encontrar o túmulo do faraó Kih-Oskh, empreendimento que já custou a vida aos arqueólogos que anteriormente aceitaram a missão. É nesta história que o milionário Roberto Rastapopoulos entra pela primeira vez em cena. Para Hergé, este personagem arrogante e vestido com sofisticação não representa ninguém em particular, é apenas um "apátrida, isto é (do meu ponto de vista naquela época), sem fé nem lei". Em todo o caso, acrescenta, não é judeu. Mal acaba esta breve aparição do malfeitor e logo surgem, também pela primeira vez, os irmãos Dupond(t), que de momento se chamam apenas X 33 e X 33-b. Nasce assim uma das mais famosas duplas da BD de todos os tempos, conhecida pelas suas atitudes e comportamentos desastrados, muitas vezes ridículos e pretensiosos, acumulando "gaffes" a torto e direito. Podem ter todos os defeitos da espécie, mas não há ponta de maldade nestes funcionários escrupulosos, que persistem em levar até ao fim as missões que lhes são atribuídas. Menos importante na economia global da série, mas particularmente significativo para nós, o persuasivo comerciante português Oliveira da Figueira dá-se também a conhecer pela primeira vez nesta história. E de que maneira, pois impinge a um Tintim que se julga consumidor esclarecido uma montanha de produtos inúteis... A um ritmo alucinante - há mesmo uma sequência em que Tintim desaparece da vista dos seus perseguidores numa nuvem nos céus da Arábia Saudita, para cair no momento seguinte numa floresta da Índia -, o herói vai percorrer três países para tentar decifrar o segredo por detrás do símbolo dos charutos. É feito prisioneiro, evade-se, torna a ser preso, é internado num hospício para doentes mentais, cruza-se com loucos e traficantes, corre perigos de morte e salva-se sempre. Em suma, ao "mergulhar" o herói no mistério, no "suspense" e no perigo, Hergé quase fica prisioneiro do labirinto que teceu em volta de Tintim, como viria a reconhecer anos mais tarde. A primeira edição em álbum, em 1934, já com
o título definitivo, será a primeira com a chancela exclusiva
da Casterman. As vendas viriam confirmar a adesão dos leitores à história
- sobretudo os mais jovens -, o que tinha ficado bem evidente por ocasião
da pré-publicação no jornal. Apesar dos ventos
de loucura que sopram sobre "Os Charutos do Faraó", a quarta
aventura de Tintim (publicada inicialmente entre 1932 e 1934 no "Le
Petit Vingtième"), marca um novo salto no percurso da obra do
mestre belga. Alguns especialistas situam aqui o acto fundador da famosa "linha
clara", graças à profusão de figuras egípcias,
hieróglifos e outros elementos marcantes do grafismo geométrico
de Hergé. |