31-10-2003 O criador de Alix foi um dos grandes nomes da BD europeia que colaboraram com Hergé antes de empreender o seu próprio percurso. Seguem-se excertos do testemunho de Jacques Martin, reproduzido em “Entretiens avec Hergé”. “Ao entrar nos Estúdios Hergé realizei um sonho de criança. Aos 11 anos, eu tinha ficado deslumbrado com as aventuras de Tintim. Para mim, tinha sido uma revelação maior, extraordinária, um daqueles choques violentos e profundos que marcam toda uma vida. Eu entrara no universo de Tintim em plena acção de ‘A Orelha Quebrada', no momento exacto em que Alonzo Perez chama a atenção de Ramón Bada para não lançar o seu punhal tanto para a esquerda. Que maravilha este Tintim salvo de ser fuzilado por uma revolução, caindo em rios de alturas vertiginosas e prosseguindo o seu caminho, a nadar de costas, sob uma chuva de balas! Que rapaz este que passava tangentes às locomotivas lançadas a alta velocidade e gozava militares imbecis! E depois havia aquela mescla de exotismo, aventuras desenfreadas — mas parecendo mesmo verdadeiras — e de humor que, para mim, expulsava os ‘Pieds Nickelés', os ‘Charlot' e mesmo o ‘Buster Keaton' que tinha encantado os meus anos de juventude. Como
Zorro, Tintim chegou e submergiu tudo. A partir desse momento,
eu passei a desenhar nas margens dos meus cadernos automóveis
que ricocheteavam nos verbos, aviões que colidiam nas somas,
bandidos que se perdiam no vocabulário latino. As aventuras
de Tintim ensinavam-me o movimento: outrora estáticos e
bem acabados, os meus bólides
passaram a pular deixando atrás de si molhos de traços
que simbolizavam a velocidade, a poeira e as trepidações.” |