17-10-2003 Neste episódio há um problema latente de incomunicabilidade: por exemplo, o artigo do “Paris Flash”... É uma paródia a um semanário muito conhecido. Os redactores não se zangaram consigo? Não creio. Julgo mesmo que se riram muito com a situação. Têm sentido de humor no “Paris... euh, Flash”!... É evidente que aludia a um célebre semanário onde são muito frequentes os erros, ao ponto de eu acreditar que havia na redacção alguém pago expressamente para introduzir essas falhas! Um dia vieram fazer uma reportagem sobre o “Tintin” e tomaram notas, nomeadamente sobre o grande painel com a efígie de Tintim e Milu que encabeça a fachada do edifício onde estão sediadas as Éditions du Lombard, em Bruxelas. Perguntaram-me as dimensões exactas e julgo que comunicaram os números exactos. Pois bem, no artigo estava tudo ao contrário: 25 metros transformaram-se em 2,5 metros, 3,5 metros passaram a ser 35!... Foi por isso que me empenhei em colocar na história uma montanha de imprecisões do mesmo estilo e diverti-me muito ao fazê-lo. Como é que concebeu este episódio? A história amadureceu da mesma forma que as outras, mas evoluiu em sentido diferente, porque tive um prazer malicioso a enganar o leitor, a mantê-lo em suspenso, privando-me da panóplia tradicional da banda desenhada: não há “maus”, não há um “suspense” autêntico, nem aventura no sentido exacto do termo... Uma vaga intriga policial cuja chave é fornecida por uma pega. Aliás, qualquer outra coisa teria servido, pois isso não tinha a menor importância! Eu queria divertir-me conjuntamente com o leitor durante 62 semanas, lançá-lo em pistas falsas, suscitar o seu interesse por coisas que não valiam nada, pelo menos aos olhos de um entusiasta de aventuras palpitantes. O castelo de Moulinsart influenciou a psicologia dos seus personagens? É verdade que Moulinsart é o ponto de partida e de chegada, mas não o fiz deliberadamente. Por outro lado, a acção de “As Jóias de Castafiore” passa-se no castelo, o que talvez seja uma projecção inconsciente da minha aspiração ao descanso, não?... Não foi a si mesmo que desenhou na capa do álbum? Sim, através de Tintim, sou eu quem se dirige ao leitor e lhe
diz: “Vão ver uma comédia... Chiu!” E agora, lugar ao teatro!” Mas é também
a minha caricatura esse bravo Haddock invectivando o marmorista e recebendo-o
depois sem uma ponta de rancor: “Foi muito simpático em ter vindo...” |