25-09-2003
"Explorando a Lua " com o Público

Carlos Pessoa

A exploração lunar é o tema do segundo álbum da colecção de banda desenhada com as aventuras de Tintim

A partida de Tintim e dos seus companheiros de viagem para a Lua foi um sucesso. Passados os efeitos da brutal aceleração inicial, os tripulantes retomam a pouco e pouco a sua vida a bordo. Mas ainda só tinham percorrido os primeiros oito mil quilómetros e já os problemas começam a surgir — confundindo a hora da partida (1h34 e não 13h34), os irmãos Dupond(t) são viajantes involuntários e consumidores inesperados de uma quantidade de oxigénio previsto para uma tripulação mais pequena.

O professor Girassol é o primeiro a dar-se conta da nova situação, que irá marcar de forma dramática o desenrolar dos acontecimentos. No entanto, e ao menos por uma vez, é também o primeiro a reagir de forma muito pragmática, decidindo concentrar-se de imediato na pilotagem do foguetão.

Antes de entrarem na órbita lunar, Haddock ainda tem tempo de fazer mais uns quantos disparates que quase lhe custavam a vida e comprometiam a expedição. Resta-lhe a consolação de não estar sozinho, pois os dois irmãos não lhe ficam atrás…

“Já está!... Andei alguns passos!... Sem dúvida, pela primeira vez na História da Humanidade, alguém caminhou na Lua!” Estas são as primeiras palavras de Tintim depois de pôr os pés na superfície do satélite natural da Terra, gesto que seria repetido, desta vez a sério e não no contexto de uma banda desenhada, pelo astronauta americano Neil Armstrong.

Segue-se um programa de pesquisa científica previamente delineado, aqui e ali interrompido por peripécias e situações que temperam, de forma ora divertida, ora dramática, a narrativa de Hergé.

Ao contrário do que sucede na primeira parte desta aventura (“Rumo à Lua”, distribuída gratuitamente com a edição do PÚBLICO da passada sexta-feira), em “Explorando a Lua” os protagonistas já não estão limitados ao espaço fechado da nave. No entanto, a sensação de confinamento não se dissipa: não são só os fatos espaciais a condicionar a locomoção e a mobilidade geral dos personagens, mas o próprio cenário lunar que esmaga os recém-chegados. “Uma paisagem de pesadelo, uma paisagem de morte, assustadora pela desolação… Nem uma árvore, nem uma flor, nem a mais pequena erva… Nem um pássaro, nem um ruído, nem uma nuvem”, relata Tintim, ao contemplar, à porta do foguetão, a paisagem que se lhe depara.

Originalmente, a viagem de Tintim à Lua constituiu uma única e longa aventura, publicada pela primeira vez na revista “Tintin” (edição belga) entre 30 de Março de 1950 e 31 de Dezembro de 1953.

Mais de três anos separam a primeira da última prancha, o que representa sem dúvida um recorde nunca ultrapassado por qualquer outra criação de Hergé. A publicação nas páginas daquela revista é caracterizada por interrupções que nunca foram convincentemente explicadas e lançaram a inquietação entre os leitores, que se interrogavam acerca da possibilidade de o autor se estar a preparar para pôr um ponto final na vida da sua criação.

A saga lunar acabará, porém, por chegar ao fim, somando um total de 117 pranchas. Ainda em 1953, o editor francês de Tintim dá início à publicação desta aventura em álbum. Por razões editoriais, a banda desenhada é dividida em duas partes: “Rumo à Lua” chega ao mercado ainda naquele ano, enquanto “Explorando a Lua” sai em 1954.