26-09-2003
O que disse Hergé sobre esta aventura
"Entrevista avec Hergé",
de Numa Sadoul, Éditions Casterman

No
entanto, há dois factos importantes em “Explorando a Lua”:
as pegadas e o gelo.
As pegadas tornaram-se um enigma,
graças a si!... Quanto ao gelo,
tudo indica que é verosímil ou pelo menos plausível,
A possibilidade de existência de água sob forma sólida
foi-me confirmada por Bernard Heuvelmans, que me ajudou a reunir documentação
sobre astronáutica, ainda antes de me ajudar com os seus conhecimentos
a ter um conhecimento mais amplo do yéti quando der início
a “Tintim no Tibete”.
Em “Explorando a Lua”, o coronel Jorgen
deixa-nos com um brio digno da sua vida de aventureiro. O engenheiro
Frank Wolff também
parte após um percurso demasiado breve: é uma das mais
belas e comovedoras personagens do seu universo.
Pobre Wolff! É a
vítima perfeita! O golpe é clássico:
joga, endivida-se e obrigam-no a fazer espionagem, têm-no na mão
pelo medo, etc. Há uma coisa que lamento: é a carta deixada
por Wolff antes de se suicidar! Na sua mensagem de despedida escreve
nomeadamente “Quanto a mim, talvez um milagre me permita escapar também”… Isso é o
fruto da intervenção de personagens bem pensantes perturbadas
pelo facto de se tratar de um “suicídio”. “Nada disso, repliquei: é um
sacrifício! Será que a Igreja recusa o bilhete para o Paraíso
ao soldado que fizer explodir uma ponte?” Mas como era necessário
sair deste impasse acabei por ceder e por escrever este disparate: “Talvez
um milagre de permita escapar…”
Bem, eu acho que é uma frase
admirável!
Não há milagre possível:
Wolff está condenado
sem remissão e ele sabe-o melhor do que ninguém!
Talvez, mas até ao último
momento ele espera que alguma coisa aconteça e que seja salvo: é sublime,
não?
Tanto melhor para todos se vê assim a situação!
Por outro lado, essa frase, no
seu espírito ingénuo,
e apesar de tudo generoso, é escrita um pouco com o objectivo
de sossegar os outros. Não perder a esperança e não
inquietar os companheiros: as duas coisas estão presentes nesta
belíssima passagem!
Ah!, tira-me um grande peso de cima!...
Embora Wolff… Não, não
digo mais nada e aceito a sua hipótese.

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