19-09-2003
"Rumo à Lua" inaugura as aventuras de Tintim no Público
Carlos Pessoa
O repórter mais famoso do mundo relata
a sua viagem à Lua. A tiragem deste primeiro álbum de BD é de 1000 mil
examplares, distribuídos hoje gratuitamente com o jornal
Ele está por
todo o lado e não
consegue passar despercebido ao longo de uma operação que
se pretende ultra-secreta. Irrita-se na fronteira da Sildávia
com um guarda que lhe oferece uma garrafa de um "líquido nauseabundo" (água
mineral). Desencadeia um alerta de incêndio ao fumar com a corneta
acústica
do professor Girassol em vez do seu cachimbo. Provoca uma das mais memoráveis
fúrias da história da BD ao chamar parvo ao pacífico
cientista surdo, habitualmente de uma placidez extrema. Choca com todos
e tropeça em tudo a cada prancha... Em síntese, eis Haddock
no seu melhor.
Criado para secundar o herói nas suas aventuras
pelos quatro cantos do mundo, o colérico marinheiro tem uma presença
de primeira grandeza no duplo álbum que narra a viagem de Tintim à Lua.
Esse protagonismo pode começar a ser constatado desde hoje em "Rumo à Lua" (oferta
grátis com o jornal), primeiro álbum daquele ciclo que
inaugura a colecção de BD a distribuir semanalmente com
o PÚBLICO durante as próximas 24 semanas - a segunda parte
desta aventura, "Explorando a Lua", será posta à venda
na próxima sexta-feira, por apenas mais 4 euros.
A escolha da odisseia
espacial para tema das aventuras de Tintim prende-se com uma preocupação
quase obsessiva de Hergé em
ser um homem do seu tempo, que não hesita em proclamar nas páginas
da revista "Tintin" que "actualmente é a Lua quem está na
ordem do dia". Fascinado pelo progresso científico e desejando
antecipar a História, estabelece um fio condutor simples - narrar
a epopeia espacial de Tintim, que leva até à Lua pela mão
de Girassol, o verdadeiro animador e responsável do empreendimento.
Pode
dizer-se que é graças aos elementos e situações
cómicas veiculadas por Haddock - e em menor dose, também
pelos irmãos Dupond(t) e por Milu - que o desenhador e argumentista
Hergé resolve eficazmente o desenvolvimento de um tema que, é um
facto estabelecido, não o entusiasmava por aí além
(ler testemunho do autor). Ou seja, a dimensão humorística
em todas as sequências preenchidas com explicações
científicas, como acontece sobremaneira em "Rumo à Lua", é uma
das armas a que o criador de Tintim deita mão com uma eficácia
espantosa.
Dando mostras de nunca se levar demasiado a sério em
matérias
que são por vezes de uma complexidade extrema, Hergé transforma
a odisseia lunar numa obra de ficção de grande fôlego
graças a uma componente romanesca que ganha corpo a pouco e pouco.
Um pouco à maneira que já tinha sido feita em outra aventura
de Tintim ("A Estrela Misteriosa", a publicar dentro de algumas semanas),
constata-se o aparecimento pontual de misteriosos inimigos dos heróis,
que acompanham o desenvolvimento da missão e tentam, sempre que
podem, comprometer o seu êxito.
O álbum
termina no momento em que a nave aluna, aparentemente sem problemas.
Faz-se um silêncio expectante. Por que não
há contacto com a Terra? Os tripulantes resistiram à pressão
da descida? Estarão vivos? As respostas a estas questões
serão dadas na próxima semana. 

|