13-09-2003
É um jornalista quase desconhecido
aquele que apanha o comboio em Bruxelas, certo dia de Janeiro de 1929,
em direcção a Moscovo. Poucos se arriscariam a vaticinar
que esta criatura, graficamente linear e narrativamente esquemática
— Tintim —, se iria transformar no herói exemplar de
aventuras ulteriores e figura fundadora da moderna banda desenhada europeia. O herói é, pois, um repórter
que nunca é visto a escrever qualquer notícia ou artigo.
De facto, ele nasceu para correr mundo e viver as aventuras às
quais deve, passados mais de 70 anos, a sua própria imortalidade.
Tem a seu lado, e desde o primeiro instante, Milou, um cão inteligente
e cúmplice de todas as aventuras, dotado de qualidades que estão
muito para além da sua mera condição animal —
realista, corajoso e preocupado com o seu conforto, mas também
combativo e bastante guloso. E está rodeado por uma vastíssima
lista de personagens, de onde se destaca o truculento Haddock, o distraído
Tournesol, a inefável Castafiore e os indescritíveis Dupond
e Dupont. Ao longo dos anos e das aventuras, Tintim
cresce e amadurece, ganhando uma espessura psicológica e ética
que mal se detectava naquela primeira banda desenhada — que, aliás,
Hergé nunca quis reformular, mantendo o registo original a preto
e branco. O herói duro e mesmo cruel das primeiras pranchas dá
lugar a um herói positivo e fraterno, sempre disponível
para defender os fracos e combater a opressão e tirania sob todas
as suas formas. |