A Vida Não se Aprende
nos Livros
Eduardo Sá
Primeiro, o título. Pela ironia mas,
também, pelo humor e amor que Eduardo Sá põe em tudo
o que diz e escreve.
De facto a vida não se aprende só nos livros. Ler ajuda
muito mas o essencial é viver. Sentir, pensar e agir. Seguir o
instinto e ouvir o coração. Sempre.
Extraordinariamente desculpabilizante, este psicólogo sabe, como
poucos, tranquilizar os pais e responder às suas dúvidas.
Mais do que responder, sabe apaziguar as suas inquietações.
Escreve como fala e isso dá-lhe uma linguagem e um ritmo muito
próprios. Uma espécie de embalo que nos envolve. Ou um segredo
que nos inspira.
Este segundo livro da colecção XIS faz especial sentido
por ser uma colecção de perguntas e respostas publicadas
ao longo dos anos na revista.
Sem pressas, Eduardo Sá guia os leitores
pelo labirinto das emoções e não hesita em escolher
o caminho que lhe parece mais certo. O seu.
A nós, aos que o seguimos, deixa margem para optar pelos atalhos
que mais nos convierem. Sabe que ninguém é igual a ninguém
e não existem seres perfeitos. Apenas homens e mulheres, apaixonantes
pela sua imperfeição. Pais que amam os seus filhos mas nem
sempre encontram as palavras ou o momento certo para o dizer. Filhos que
adoram os pais e eram capazes de trocar tudo por essas palavras ou esses
momentos.
Eduardo Sá sabe que a vida não é fácil e que
sobra muito pouco tempo para o essencial. E é também por
isso que este seu livro vale a pena. Porque nos obriga a parar e a ganhar
tempo para fazer mais e melhor.
Bons pais são, para o autor, todos
aqueles que ouvem os seus filhos com o coração. Que os conhecem
porque os sentem. O resto é improviso e pertence à intimidade
de cada um. Não acredita em fórmulas, portanto.
Eduardo Sá fala do essencial e deixa o acessório ao critério
de cada um. E o essencial são as prioridades. E a primeira prioridade
são os afectos, as palavras que se dizem e a maneira como se dizem.
E pouco mais.
O instinto maternal e o instinto paternal
comovem e trazem-lhe muitas certezas. Neste capítulo, vale a pena
ler o que escreveu:
“O instinto maternal não é só uma qualidade
das mulheres... saudáveis. Os homens também acedem à
bondade, têm gestos de ternura e têm colo. Alguns, foram fustigados
por histórias de alguma dor (...) outros foram-no reprimindo como
se a maternalidade fosse um inimigo declarado da masculinidade (...) mas
será que os homens ‘maternais’ são menos pais
e que as mulheres ‘paternais’ são menos mães?”
Eduardo Sá responde com perguntas e faz-nos pensar. Mais do que
pensar, dá-nos tempo para ajustar o fato à nossa medida.
Ao nosso tamanho. Deixa-nos, até, transformá-lo, adaptá-lo
e tingi-lo de outras cores. E é nisto que os seus livros se revelam
especialmente eficazes. Porque aquilo que me serve a mim é necessariamente
diferente do que serve aos outros e, afinal, nos seus livros todos encontramos
tamanhos por medida. À nossa medida.
Texto Laurinda Alves
ENTREVISTA COM O AUTOR
O que aprendeu com os seus livros?
Aprendi que um livro é uma conversa imaginária, que pode
ser tanto melhor quando o escrevemos sentindo as pessoas para quem o pensamos,
enquanto nos escutamos a nós, ao mesmo tempo. E aprendi, também,
que por mais perto que nos sintamos de alguém, com aquilo que escrevemos,
um livro permanece mais ou menos por escrever depois de escrito. O nosso
melhor livro será sempre o que vem a seguir.
Quando sentiu necessidade de começar a escrever?
O meu primeiro texto era um poema. Tinha oito, nove anos, e não
sei para quem o escrevi. Fosse como fosse, a partir daí imaginei
que podia ser poeta. Desde aí, entre mim e a escrita tudo foi acontecendo
por acaso. Escrever não é bem uma necessidade, é
um namoro. Quando vem, a escrita convive comigo como uma amiga inseparável.
Quando parte, eu sei, sempre, que há-de voltar.
Se tivesse que escolher um dos seus livros, qual escolheria?
O próximo, que se chama Tudo o Que o Amor Não É,
e que sai no próximo mês.
Quem é que o inspira?
As crianças, acima de tudo.
O que aprendeu com os seus filhos?
Aprendi a aprender. Eles ensinaram-me a ser mais pessoa, e ensinaram-me
a apanhar sol por dentro.
Somos melhores pais hoje do que ontem?
Mas sem quaisquer dúvidas! Vamos aprendendo a ser pais à
medida que somos pais. De tal forma é assim que só estamos
aptos para sermos bons pais... quando somos avós.
De que é que os pais e os filhos se queixam mais?
Queixam-se, sobretudo, por não se sentirem tão bem amados
quanto desejam. Afinal, todas as pessoas querem muito ser felizes e assustam-se
quando se surpreendem por os laços de amor se atrapalharem com
vários nós.
O que gostava que tivessem feito consigo e não fizeram?
Que tivessem brincado comigo ainda mais do que brincaram.
O que pode revelar-se verdadeiramente traumático para os filhos?
Sentirem-se, continuadamente, abandonados por dentro.
E para os pais?
Sentirem os filhos como a grande oportunidade que perderam para se reconciliarem
com a vida.
Mesmo sabendo que não existem fórmulas nem conselhos
universais, o que diria aos pais para os ajudar a viver melhor com os
seus filhos?
Que estão “obrigados” a fazer uma asneira de oito em
oito horas, pelo menos. Talvez, assim, percebam que a espontaneidade,
para o crescimento das crianças, é como as vitaminas e que
a autenticidade lhes faz melhor que o óleo de fígado de
bacalhau. E, já agora, que os pais perfeitos (que haja dentro deles)
são os verdadeiros obstáculos.
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